Será que foi um sonho?
- Érica Nunes
- Aug 7, 2015
- 4 min read

Neste texto gostaria de falar sobre sonhos, um tema que sei ser de uma imensidão inenarrável, partindo dessa premissa posso falar um pouco sobre o que já li e estudei sobre o tema, seriam necessários vários textos para falar bem sobre esse assunto, então o farei de forma resumida e futuramente escreverei mais sobre isso.
Hoje a noite você, independente de quem seja, vai sonhar. Muitas vezes não nos lembramos dos sonhos que temos, pesquisas indicam que toda pessoa tem pelo menos uma hora e meia de sono REM toda noite, esse é o momento em que estamos sonhando. Os sonhos são uma realidade inescapável, uma forma que a natureza encontrou de nos fazer entrar em contato com nós mesmos em suas maravilhas e conflitos. Muitas intuições e percepções de nossa realidade psíquica vem por meio deles se estivermos minimamente atentos, muitas vezes eles se mostram de forma bastante enigmática para a nossa consciência em vigília que tem uma imensa necessidade categórica.
Os sonhos sempre foram fonte de mistérios pela grandeza da mensagem que trazem. O conteúdo dos nossos sonhos pode estar ligado a vivência psíquicas comuns do dia a dia do sonhador e também à experiências corporais como sensações físicas ou olfativas, mas os sonhos vão muito além disso, pessoas dizem ter experiências profundamente tocantes durante seus sonhos, relatam ter recebido visitas de seres, conhecido lugares, recebido aprendizagens e mesmo mensagens divinas. Até onde a experiência é uma criação do inconsciente e até onde aconteceu um verdadeiro contato espiritual é sempre uma discussão polêmica, mas todos podem concordar que os sonhos são um profundo mistério para a humanidade que acaba sendo ignorado por muitos por não compreende-los.
Muitos foram os momentos da humanidade em que os sonhos foram alvo de atenção e muitas vezes fizeram história, em grande parte do tempo foram vinculados a uma forma de comunicação com o divino. Um exemplo disso é dado por Von Franz em seu livro O Caminho dos Sonhos, a história do profeta Jacó que sonhou com uma escada que chegava até o céu por onde Deus descia para se comunicar com ele, esse sonho determinou o curso da história judaica.
Outros também determinaram os rumos da nossa sociedade contemporânea, influenciando a produção científica como o sonho de Albert Einstein em sua juventude no qual ele viajava na velocidade da luz pelas estrelas e o inspirou a formular a teoria da relatividade. A nossa arte também tem suas raízes profundas no inconsciente, muitos artistas relatam ter sido inspirados por suas vivências no plano onírico, um exemplo disso é a conhecida obra Frankenstein de Mary Shelley, que teve o sonho inspirador de sua obra durante um inverno na Suíça.
Dentro da psicologia Freud foi um dos pioneiro na percepção dos sonhos como material significativo para análise, ele percebeu que o inconsciente tinha uma linguagem metafórica que se encontrava representada nos sonhos de forma nem sempre clara para a nossa mente consciente. Para ele os nossos sonhos nos falam sobre nossos desejos inconscientes e muitas vezes recalcados pela consciência, quando realizamos coisas durante o sono que não podemos realizar na vida cotidiana isso possibilita uma descarga de energia que estava ligada aquele desejo.
Outro estudioso do tema dentro da psicologia foi Carl G. Jung, sua leitura considera os sonhos extremamente ricos em simbolismos gerados tanto pelo inconsciente pessoal quanto o coletivo. Ele também os considerava formas de comunicação do inconsciente com o indivíduo, já que ele mesmo tinha uma intensa vida onírica e acompanhava de perto os sonhos dos paciente que traziam muitas dicas sobre seus complexos, os rumos da terapia e até mesmo sua relação com Jung. Alguns de seus pacientes chegavam a ter sonhos premonitórios sobre coisas que iriam lhe acontecer, o que foi decisivo na formulação da teoria analítica junguiana sobre o inconsciente que ele percebia estar fora de uma linha temporal comum a nossa consciência.
Estes dois autores perceberam que os sonhos são uma fonte extremamente privilegiada de acesso ao inconsciente e também que eles tem uma comunicação mais intuitiva e menos linear do que a nossa consciência, na minha opinião muito criativa, quem dera eu ter a criatividade do meu inconsciente que demonstra ser bastante inventivo em sua simbologia e narrativas empolgantes.
Por isso a importância desse assunto, já que o contato com os sonhos é um contato consigo mesmo e uma enorme fonte de autoconhecimento. Há mais ou menos uns dois anos passei a anotar os meus sonhos com grande frequência, esse é um hábito que recomendo a todos os meus clientes, pois quando se passa a observar de perto o seu inconsciente ele começa a se comunicar de forma mais clara, naturalmente, pois sabe que esta sendo ouvido.
Alguns sonhos continuam sem sentido claro, mas muitos passam a ter seu significado esclarecido com o passar do tempo e quando voltando para analisá-los com outros olhos. De forma resumida falarei um pouco sobre a forma que se interpreta os sonhos numa perspectiva junguiana, segundo John Betts, analista Junguiano:
1) é impossível interpretar um sonho fora de seu contexto e da subjetividade do sonhador;
2) o inconsciente apresenta mecanismo compensatórios, por exemplo, uma pessoa com complexo de inferioridade que sonha todas as noites que está se reunindo com grandes autoridades para tomar decisões importantes;
3) os sonhos falam sobre o estado atual de nossa psique, ou seja, como estamos psiquicamente na noite do sonho;
4) durante os sonhos nossas resistências inconscientes estão menos ativas, então podemos nos aproximar com mais fidedignidade de nossos sentimentos com relação às coisas;
5) sonhos nos dão acesso a conteúdos de grande riqueza subjetiva e comunicação do inconsciente, por meio de simbolismo e imagens arquetípicas (preste atenção em imagens ou símbolos recorrentes em seus sonhos);
6)sonhos tem poder curativo por meio da ressignificação de certos processos afetivos.
Como se pode ver não existe um roteiro que diga exatamente o que significa cada sonho, eles são extremamente subjetivos, são um mistério fascinante e rico para quem está em busca do autoconhecimento. Espero que o texto tenha esclarecido um pouco a importância psíquica dos sonhos, espero voltar para explorar mais sobre esse assunto.
Érica Nunes
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