Alimentação consciente
- Maria Luísa Macedo
- Nov 10, 2015
- 2 min read
Há pouco mais de vinte anos Carol J. Adams publicou A Política Sexual da Carne. No livro, Adams apresenta uma teoria social complexa que estabelece uma ligação entre a dominância masculina e o ato de comer carne. Na visão da autora, a luta feminista radical também é abolicionista. Adams afirma que “(...) A igualdade não é uma idéia, é uma prática. Nós a exercemos quando não tratamos como objetos outras pessoas ou outros animais. (...) O ponto essencial da política sexual da carne é que existe algo no outro lado dessa cultura de opressão – e esse algo é melhor, melhor para nós, melhor para o meio ambiente, melhor para as relações, melhor para os animais.”

Segundo Sônia T. Felipe no livro Acertos Abolicionistas, é estimado que 56 bilhões de indivíduos não humanos sejam mortos anualmente a fim de saciar o consumo de carne animal no mundo. Esse número não engloba as vítimas das indústrias de ovos e laticínios ou de laboratórios de cosméticos e remédios. Tampouco sabemos quantos indivíduos morrem anualmente devido aos maus tratos gerados pela comercialização de animais. Contudo, nenhuma dessas mortes é percebida como real pelos seres humanos – no momento em que cada vítima foi privada de sua subjetividade e extirpada de qualquer conexão com seu corpo morto.
Ainda de acordo com Adams, o consumo de carne legitima outros tipos de violência. Ao incorporar a carne morta em sua dieta, o carnista assina um contrato que o inclui em um ciclo de tortura e assassinato – ainda que tal nunca seja debatido. Através do especismo, discriminação contra animais, e do especismo elitista, discriminação que classifica os animais abaixo dos humanos, o opressor pode objetificar outro ser e proclamar direito absoluto sobre ele. Objetificar outrem significa estabelecer que o corpo e a vida desse ser, humano ou animal, existam para seu prazer ou benefício. Tais práticas cotidianas dão vazão ao sistema escravista de animais e humanos, ao racismo e ao machismo.
Seguindo o mesmo raciocínio, Felipe postula que “(...) Enquanto não pararmos de usar os corpos dos animais para obter deles benefícios para nós, não pararemos de julgar que temos o direito de usar os corpos dos outros humanos para obter deles benefícios para nós.” Superar os dogmas morais que nos foram impostos culturalmente é, consequentemente, o desafio que nasce com a tomada de consciência.

Cito Simone de Beauvoir que afirmou em seu livro O Segundo Sexo “(...) Se o corpo não é uma coisa, é uma situação: é a nossa tomada de posse do mundo e o esboço de nossos projetos.” A prática da crítica feminista abolicionista exige, portanto, que tomemos controle de nossos corpos e os usemos como arma de combate. A alimentação diária, bem como qualquer outra escolha que fazemos enquanto consumidores, torna-se um ato político com uma mensagem a ser passada. Ao optarmos por viver dentro de uma ética abolicionista animalista, mandamos uma mensagem de resistência à exploração de qualquer ser senciente e damos início a uma nova cultura - uma cultura que não estupra, não tortura e não mata. Traga a revolução que você espera ver no mundo para o seu corpo!
Animastê,
Maria Luísa Macedo
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