Sobre a depressão
- Maria Luísa Macedo
- Dec 14, 2015
- 4 min read
De acordo com dados fornecidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS), quase sete por cento da população mundial, cerca de quatrocentos milhões de indivíduos, sofre de depressão. Previsões feitas no século passado pela organização afirmavam que em dois mil e trinta o mal seria responsável por cerca de nove por cento do total de anos de vida saudável perdidos para doenças. Tal índice foi alcançado em dois mil e dez. O Brasil foi o país com maior prevalência de casos grave da doença, todavia, é importante ressaltar que a amostra brasileira da pesquisa constitui-se exclusivamente por moradores da região metropolitana de São Paulo. Segundo um levantamento realizado pelo jornal O Estado de São Paulo, com base em dados fornecidos pelo sistema de mortalidade do DATASUS, o número de mortes relacionadas à depressão cresceu setecentos e cinco por cento no país nos últimos dezesseis anos.
A OMS define depressão como um transtorno mental comum e característico da modernidade, configurado por um estado de tristeza, perda de interesse geral e ausência de prazer, oscilações entre sentimentos de culpa e baixa autoestima, além de distúrbios do sono ou do apetite. É fundamental distinguir um momento de tristeza, como desemprego, a morte de um ente querido ou uma separação, da depressão - essa tem o sentimento de tristeza perdurando por meses ou anos.
As causas da doença são multifatoriais. De acordo com Giuliana Cividanes, médica mestre em psiquiatria pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), tais causas compõem-se por fatores genéticos, biológicos e ambientais. “(...) Sabemos que existem genes que conferem maior ou maior vulnerabilidade ao aparecimento da depressão, assim como de outros transtornos psiquiátricos, e nenhum psiquiatra questiona a contribuição do estresse precoce (na infância) na gênese dos quadros depressivos e ansiosos”. Cividanes ainda aponta que por muito tempo se afirmou que a depressão seria provocada por uma desordem na produção química dos neurotransmissores, contudo, “(...) Ao longo do tempo, essa teoria vem sendo revisada e analisada, e hoje dizer que a causa da depressão é apenas um desequilíbrio químico seria um grande reducionismo”.
Há uma redução nas atividades físicas e psicológicas do sujeito depressivo. Comumente, há uma incapacidade de obter prazer via qualquer atividade antes prazerosa, uma constante sensação de desespero e dificuldade em expressar seus sentimentos. Além disso, o sujeito depressivo distorce a realidade ao alimentar recorrentes pensamentos negativos. Também se observa no indivíduo um movimento de retraimento e auto isolamento. Em alguns casos, ocorrem pensamentos suicidas.
O vídeo abaixo ajuda a entender um pouco a perspectiva de quem sofre do mal:
O tratamento da depressão consiste em psicoterapia e, em certos casos, medicação. Giuliana Cividanes afirma que “(...) Como a depressão é uma doença multifatorial, o melhor tratamento é aquele que inclui uma abordagem biológica, ou seja, o uso de medicamentos, combinado com uma abordagem psicológica e alterações de hábitos, comportamentos e ambiente quando necessários”. Todavia, é comum um receio por parte do indivíduo quanto à medicação.
Eu lido com a depressão por mais ou menos dez anos – o primeiro diagnóstico de quadro depressivo que recebi foi aos quatorze anos. Já vivi momentos muito bons e já vivi momentos muito ruins, que me faziam duvidar a existência dos primeiros. Há cerca de um ano meio comecei um tratamento psiquiátrico que envolve medicamentos antidepressivos. Confesso que relutei muito em aceitar a medicação, mas, sinceramente, eu queria me sentir bem e resolvi tentar. Nesse processo foi fundamental encontrar um psiquiatra com quem eu me sentisse confortável e que me passasse confiança.
A psicoterapia aliada ao tratamento psiquiátrico revelou uma taxa de sucesso de oitenta e cinco por cento em um estudo com jovens norte americanos segundo o site Cria Saúde. Ainda de acordo com o estudo citado pelo site, as chances de sucesso em tratamentos exclusivamente psiquiátricos eram sessenta e nove por cento e em tratamentos exclusivamente psicoterápicos, sessenta e quatro por cento.
Ainda assim, o tratamento com antidepressivos e ansiolíticos é agressivo. A medicação demora de dez a vinte dias para começar a agir e o corpo do sujeito leva seu próprio tempo para se acostumar aos efeitos colaterais. Quando eu comecei a tomar antidepressivo, passei um mês e meio vomitando todos os dias das nove as onze da manhã. Fora isso me sentia entorpecida, enjoada e extremamente sonolenta. Estou inserindo no meu corpo componentes químicos fortes que interferem na química do meu cérebro. Pensar nisso me assusta muito! Todavia, não me arrependo da minha decisão. Eu estava em um ponto no qual sabia que não conseguiria sair sem ajuda e, com o apoio da minha psicoterapeuta e psiquiatra, consegui voltar para a minha vida. Consegui voltar a respirar, a rir, a voltar a vibrar positivamente.
A depressão afeta o indivíduo globalmente, ou seja, em todos os âmbitos de sua vida. É de extrema importância para o individuo em processo depressivo se sentir acolhido pela família e pelos amigos. Ainda que o sujeito se isole e mostre-se mal humorado ou agressivo, ele clama por afeto e aceitação. Esse movimento de acolhimento nem sempre tem que vir acompanhado de conversas sobre seus sentimentos ou conselhos, às vezes, basta que o ente querido esteja fisicamente presente. Claro que é exigido, em muitos casos, paciência por parte da rede de apoio. O que pode ser cansativo e o levar a perceber o sujeito em estado depressivo como ingrato.
Eu tenho muito a agradecer as pessoas que me rodeiam e que se mostraram doces e pacientes comigo, mesmo quando eu era a pior companhia do mundo. E, de vez em quando, ainda sou. Ter depressão me ensinou a prestar atenção em meus sentimentos, principalmente em sentimentos negativos – em os escutar, entender e deixar passar. Este processo também me ajudou a buscar ser mais doce, paciente e compreensiva com o outro e com sua dor.
Iran Giusti, editor do BuzzFeed, relata sua experiência no link abaixo:
http://www.buzzfeed.com/irangiusti/como-minha-vida-avancou-quando-parei-de-resistir-aos-antidep#.fbN28p3Qon
Encerro esses pensamentos com um convite. Busque na sua dor, o que te faz forte!
Animastê,
Maria Luísa Macedo
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