Me respeita, que eu sou criança!
- Maria Luísa Macedo
- Feb 24, 2016
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Com uma gravidez e o nascimento de uma criança nasce também uma série de expectativas criadas pelos pais. Tais expectativas são muitas vezes pautadas pelo imaginário coletivo e afetam práticas educacionais, de cuidado e de interação. Obviamente, a criança nascida não irá corresponder às expectativas. Daí a afirmação de Ciccone de que todo adulto tem sempre qualquer coisa a reparar de sua história infantil e toda criança tem qualquer coisa a reparar da história parental.
E. M. Standing disse, “Montessori segue os caminhos da Natureza”. De fato, o método Montessori advoga para que todas as crianças sejam livres. Em liberdade, a criança irá agir conforme sua capacidade e exigirá do mundo conforme sua necessidade. Uma criança livre para vivenciar o mundo de sua própria maneira não irá querer mais do que precisa, tampouco irá rejeitar o pouco que lhe é necessário. Esse é o ponto de apoio mais importante do método Montessori que busca, acima de tudo, respeitar a criança. Respeitar uma criança significa reconhecer que ela é um indivíduo único e um membro ativo da sociedade, participando e contribuindo com ela desde o seu nascimento. Fora isso, também é fundamental respeitar o espaço e o tempo de tal indivíduo.

Todavia, ao observarmos interações entre pais e filhos podemos notar que, na maioria das vezes, o respeito é unilateral. Crianças são ensinadas a respeitar seus pais, mas não aprendem que também são dignas de respeito. Respeitar uma criança enquanto educador significa esforçar-se para ensina-la o conteúdo das regras, em vez de obediência cega e medo pelas figuras de autoridade em sua vida. Tal obediência pode ser interpretada por alguns como virtude, mas é fruto da diminuição da vontade de vivenciar o mundo.
Piaget afirma em O Juízo Moral na Criança que as regras morais chegam às crianças como verdades, portanto não se pode arbitrar sobre obedecer ou não. Assim, a criança aprende a submissão. Quando é estabelecida uma relação de respeito mútuo entre adulto e criança, o respeito às regras dá-se pela vontade autônoma do individuo. Ou seja, as regras são cumpridas não por obrigação, mas pela apropriação delas pela criança. Ao se cultivar uma relação de respeito mútuo, adulto e criança reconhecem que merecem ser ouvidos e têm que arcar com as responsabilidades que se acarretam de suas escolhas.

A criança está aquém do adulto quanto maturidade cognitiva e emocional. Portanto, é dever do adulto adequar-se ao nível da criança, demonstrando paciência e pronto para dar suporte emocional quando ela se frustra. Isabel Allende escreveu, “(...) Aceitem as crianças da mesma forma que aceitamos as árvores – com gratidão, porque elas são uma benção – mas não tenha expectativas ou desejos. Você não espera que as árvores mudem, você as ama da maneira que elas são”.
Proponho que busquemos aceitar cada criança como o individuo cheio de particularidades que ela é invés de impor quem acreditamos que ela deveria ser. Se isso soa muito difícil, procure se lembrar de quando você era criança e o que pensava dos adultos ao seu redor.
Animastê,
Maria Luísa Macedo
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