Parto natural, humanizado ou "animalizado"?
- Natália Schettini
- Mar 24, 2016
- 3 min read
Não importa como queiram chamar, na verdade o que importa é ser uma experiência positiva para o trinômio (mãe-filho-família). Pode ser normal ou cesárea, mas deve ser da escolha da mulher após muita orientação e informação. Lembrando que a cesárea deve ter uma indicação real, caso seja desnecessária traz risco para mãe e para o bebê. Mesmo se a escolha for por um parto natural, mas se for necessário uma cesárea de emergência, a mulher continua sendo a protagonista do parto, portanto o respeito deve estar presente em todo momento, a placenta e seu filho são da mulher e suas vontades em relação a eles devem ser atendidas sempre que possível.

Todo mamífero sabe parir, a mulher tem a força de uma leoa e deve confiar em sua capacidade de parir e amamentar seu filho. Além disso, acreditar que a dor deve ser ressignificada no sentido de ajudá-la em todo o processo de parturição, pois ela vem e passa, como a onda do mar, não devendo ser encarada como algo negativo e insurportável.
Segundo a colunista Renata Palombo, a humanização está envolvida no processo de tornar as pessoas cada vez mais conscientes de sua humanidade, compreendendo o nascimento de um filho como algo instintivo e natural. É livrar-se das interferências mecânicas, é aproximar-se das origens, é se permitir sentir e emocionar, é considerar o psíquico e o espiritual sem um anular o outro, mas todos como parte da completude que é ser humano. Não é afastar-se completamente da tecnologia que trouxe grandes avanços, mas só utilizar-se dela quando for extremamente necessário, uma vez que a fisiologia e o instinto devem agir em sintonia sem interferências na transformação da mulher em mãe.
De acordo com o francês Michel Odent, atualmente, temos um acúmulo de informações seguras sugerindo que a forma como nós nascemos tem conseqüências duradouras por toda a vida, isto é, precisamos aprender a pensar no longo prazo, pois até agora nós só pensamos no curto prazo. Os resultados nos fazem pensar, por exemplo, que a forma como a mulher deu à luz pode influenciar a qualidade e a duração da amamentação. Também sabemos como a microbiota intestinal é importante, e nossa saúde depende da interação entre a microbiota intestinal e nosso sistema imunológico, sendo que ela se estabelece imediatamente após o nascimento. Faz uma grande diferença o bebê encontrar primeiro os germes transmitidos e carregados pela mãe, germes já conhecidos e familiarizados pelo bebê do que ele ser colonizado imediatamente por germes de fora, não conhecidos pela mãe.
Neste sentido, precisamos redescobrir as necessidades básicas da mulher em trabalho de parto e do bebê recém-nascido, já que é uma tarefa difícil entender essas necessidades depois de milhares de anos de controle cultural do processo de nascimento, com rituais e com a interferência no processo de nascimento em todas as sociedades, sendo que podemos aprender no presente sobre esse processo a partir de uma disciplina básica que é a fisiologia.
Hoje o número de mulheres que dão a luz e que eliminam os hormônios naturais do amor está tendendo a zero. Isso é uma situação sem precedentes. Os seres humanos são tão inteligentes e tão espertos, devido ao seu neocórtex, que conseguiram tornar os hormônios do amor em hormônios inúteis. Sendo assim o que vai acontecer daqui a três ou quatro gerações se continuarmos nessa direção? Se fizermos a pergunta dessa forma e percebendo que precisamos redescobrir as necessidades básicas da mulher em trabalho de parto e do bebê recém-nascido e atender às regras básicas e simples, podemos dizer que a prioridade hoje não é humanizar o parto. A prioridade hoje é mamiferizar o parto.

Para isso, a mulher quando engravida deve procurar apoio profissional e se preparar tanto para o parto, sendo que o que deve prevalecer é seu protagonismo e direito de escolha. Todo parto pode ser um momento único e maravilhoso quando é respeitoso.
Quem trabalha nesta área deve gostar verdadeiramente do que faz para exercer a profissão com amor e compaixão. Ser o mesmo profissional no setor público ou privado, ou seja, tentar adotar as mesmas condutas e respeitar a dignidade de cada família.
Privacidade, silêncio com música ao fundo, pouca luminosidade, conforto, segurança, técnicas de alívio para dor, liberdade para movimentar-se e alimentar-se e o que mais a mulher desejar para tornar seu parto uma experiência enriquecedora deve estar disponível.
O profissional deve contar com uma equipe de apoio para tornar esse evento no melhor para a mulher, afinal um só profissional não é capaz de dar assistência 24 horas por dia. Procurar uma equipe que atue com boas práticas na assistência ao parto é fundamental para preservar esse processo.
Defendo a liberdade de escolha e toda mulher merece isso!
Natália Schettini, enfermeira obstétrica
Referências:
- O que seria o parto humanizado? Disponível em: <www.maesaudavel.com.br/colunistas/renata/o-que-seria-o-parto-humanizado/>
- Reprodução da palestra de Michel Odent no Seminário BH pelo Parto Normal, em 2008. Disponível em: <www.sentidosdonascer.org/blog/2016/01/a-prioridade-hoje-e-mamiferizar-o-parto-por-michel-odent/>
Comentarios