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Sobre a violência normatizada contra as crianças

  • Maria Luísa Macedo
  • Apr 18, 2016
  • 3 min read

Se um adulto bate em uma mulher, nós chamamos isso de violência. Se um adulto bate em um animal, nós chamamos isso de violência. Porém, se um adulto bate em uma criança, nós chamamos isso de educação. Sob tal disfarce, a violência contra crianças passa a fazer parte do nosso dia a dia e a ser aceita socialmente.


De acordo com um relatório publicado pela UNICEF, ao agredir uma criança, o adulto comete, no mínimo, dois tipos de violência, física e psicológica. A violência física é caracterizada como toda e qualquer ação que cause dor física em uma criança. Já a violência psicológica é caracterizada como comportamentos que levam a criança a experienciar sentimentos de desprezo ou culpa. A violência psicológica também se caracteriza por toda e qualquer manipulação que o adulto usa como meio de conseguir que a criança o atenda, por exemplo, “Se você não fizer isso, eu não vou mais gostar de você.”


Infelizmente, o Brasil não dispõe de estatísticas confiáveis acerca da violência contra as crianças - a não ser quando a criança é vítima de assassinato. Ainda assim, sabemos que em nosso país crianças de todas as classes sociais e regiões são vítimas de maus tratos, sendo que o pico das agressões dá-se no período de dois a quatro anos de idade. Também há dados que apontam correlação entre a violência contra a criança e comportamentos agressivos, evasão escolar e atos de infração na adolescência, bem como transtornos mentais de ansiedade, de dissociação, de depressão, de personalidade e uso abusivo de álcool e outras drogas.


Françoise Dolto afirmou: “Criar um filho não é repreendê-lo por seus comportamentos que nos angustiam.” De fato, muitos pais, ao interagir com seus filhos, esquecem-se que, enquanto crianças, eles têm uma forma diferente de pensar e perceber o mundo. Assim, não são poucos os pais que, por não saberem lidar com o indivíduo que é a criança, taxam seus filhos de hiperativo, distraído ou estressado - ensinando, de tal forma, a criança a ter a mesma percepção sobre ela. Fora isso, são muitos os pais que por se sentirem frustrados com seu filho experimentam sentimentos de repulsa, raiva ou ira pela criança - tais sentimentos, quando não são bem digeridos e compreendidos, também podem levar a comportamentos agressivos por parte dos pais.


Acredita-se que a violência contra a criança dá-se de maneira trans-geracional. Ou seja, a criança abusada tende a se tornar um abusador. Acerca do tema, S. Binyomin Ginsberg afirmou: “No decorrer do meu trabalho, conheci e conversei com muitos filhos e pais. Ainda não encontrei um filho que alegasse que estaria muito melhor se tivesse sido mais “agredido” pelos pais e nunca encontrei um pai que se arrependesse de não ter batido mais nos filhos. Porém, pelo outro lado, ouvi de muitos filhos e pais sobre os horrores envolvidos com castigos corporais. Por isso, posso declarar confortavelmente que bater numa criança é errado e uma criança nunca, sob nenhuma circunstância, deve ser agredida.”


Nas palavras de Erich Fromm, “Amamos aqueles a quem servimos e servimos àqueles a quem amamos.” O amor, portanto, é construído diariamente através da busca por compreender e respeitar o outro, mesmo que esse outro seja seu filho. Os pais sempre serão falhos, mas aquele que educa falhando com amor não criará uma criança infeliz.


Portanto, enquanto pais, mães e educadores, cabe a nós assumir a responsabilidade pelas ações da criança e proporciona-lhes um ambiente de amor, onde seu desenvolvimento será único, especial e, acima de tudo, harmonioso com o mundo que lhes apresentamos. A única maneira de por um fim na violência que nossas crianças sofrem é mudando nosso comportamento e nos posicionando ao lado deles contra seus agressores. A única maneira de um por fim na violência que nossas crianças sofrem é acreditarmos que não é tarde para mudar e que nós, individualmente e coletivamente, podemos fazer a diferença.

“O discurso da impossibilidade da mudança para a melhora do mundo não é o discurso da constatação da impossibilidade, mas o discurso ideológico da inviabilização do possível”, Paulo Freire.



Animastê,

Maria Luísa Macedo

 
 
 

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