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O grito da loucura

  • Julia Cobucci
  • May 23, 2016
  • 3 min read

A loucura vem sido vista como um tabu desde os primórdios da sociedade. Acreditava-se que a doença mental seria uma espécie de possessão de um espírito maligno e os métodos para tratamento seguiam tal raciocínio (Jung, 1999).


Na idade média, durante o século XV, com uma visão espiritual da loucura, deu surgimento ao Nau dos Loucos, onde se excluía todos os loucos da cidade em um navio e os deixavam à deriva. É a partir daí que o louco passa a ser visto como uma ameaça e irrisório, por se libertarem do mundo da “normalidade” dos homens (Foucault, 2014).


Foi a partir do século XVII que os loucos passaram a ser internados em instituições. A primeira delas foi no Hospital Geral. Os internados eram vistos como “insanos”, homens “em demência”, pessoa de “espirito alienado”, “pessoas que se tornaram inteiramente loucas” (Foucault, 2014).


Somente entre os séculos XVIII e XIX que o fenômeno “loucura” se classificou como uma doença do tipo mental, com a intervenção de Pinel. Ele tinha como intuito encontrar a cura, porém isso nunca aconteceu. Propôs uma reforma na estrutura, porem não houve uma humanização. No Hospital Geral as pessoas estavam segregadas, mas não silenciadas – silêncio este que, a partir do momento que se perde a razão, a pessoa deixa de ser sujeito – sem direitos, submetido ao poder da instituição, à mercê dos médicos, afastados e excluídos (Basaglia, 1985). Com essa intervenção, começaram a surgir os manicômios, instituições consideradas entre as mais cruéis de toda historia da humanidade. Basaglia (1985) a define como o mundo do terror, da violência e da exclusão.


No Brasil, a conscientização de toda essa crueldade, foi somente no final dos anos 1960 e em meados da década de 1970 com a Reforma Psiquiátrica, que tinha como referencia o modelo italiano e visava dar direitos e cidadania aos estigmatizados como “loucos”.


A Reforma Psiquiátrica implica em transformar saberes e práticas em relação a loucura, entender a complexidade do sujeito para melhor intervenção, recompreender o sofrimento psíquico e o mais importante, DESTRUIR o modelo clássico de manicômios (Kantorski, 2004). Pretende-se lutar para que os loucos não estejam mais presos, segregados, discriminados e maltratados dentro de instituições onde eram tratados como crianças e punidos como criminosos.


É importante lembrar também, que não adianta extinguir os manicômios se não há um acolhimento social perante àqueles que sofrem de alguma doença mental.


O dia 18 de maio foi instituído como dia Nacional da Luta Antimanicomial, visando potencializar o poder de aglutinação de maiores parcelas da sociedade em torno da causa. No ano de 1978 foi criado no Brasil o Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental, reivindicando propostas reformistas na psiquiatria com intuito de dar direitos e cidadania ao doente mental. Além da tentativa de dar ao louco um outro lugar social.


Somente em 1989, o Deputado Paulo Delgado (PT-MG) apresentou o Projeto de Lei, que viria a ser conhecido como Lei da reforma psiquiátrica e doze anos depois a lei foi sancionada. Nela propõe-se estabelecer todos os direitos da pessoa com doença mental, porem não tem impedimento firme à reprodução do modelo manicomial, mas já é considerada uma vitória importante.


Uma das psicopatologias consideradas mais graves e estigmatizada como loucura, em uma ótica simplista, é a esquizofrenia.


Mas afinal, o que é de fato a esquizofrenia?


Em uma das vezes em que estava na ONG de saúde mental que trabalho, um dos usuários levantou essa pergunta. As pessoas questionaram como que ele via a esquizofrenia, e sem pensar muito ele respondeu:


- É o medo.

- Medo de que?

- Medo de não poder ser quem você é.


É importante lembrarmos que ao quando estamos lidando com pessoas, elas tem que ser sempre tratadas como tal, e não meros diagnósticos. Cada um tem sua complexidade e singularidade .

A Luta, como disse uma brilhante senhora do Movimento, é pela saúde, e não pela doença. E além de tudo, o objetivo não é a cura e sim dar sentido a singularidade de cada um.


Prender não é tratar, afinal, a liberdade é terapêutica.



Julia Cobucci



 
 
 

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