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Deus no divã

  • Bruno dos Santos Costa
  • Jun 11, 2016
  • 4 min read

Recentemente, um grupo de cientistas australianos realizou um experimento que demonstra o efeito do observador sobre um átomo – algo que só havia sido registrado com a luz. A ideia ia que a luz pode ser interpretada tanto como uma onda quanto como uma partícula, e que é na verdade os dois até ser observada. O mesmo parece ocorrer com os átomos, que se comportam como onda e partícula até serem observados.

É claro que esse conceito já é conhecido pelos seres humanos há milênios, expresso por diversos místicos e profetas ao longo da história, muitas vezes de forma altamente metafórica. Consideremos a velha dúvida: se uma árvore cai na floresta, e ninguém está lá para ouvi-la, ela faz barulho? Não é mais ou menos a mesma questão do Gato de Schrödinger? A árvore tanto cai quanto não cai, e só fará barulho, ou não, na medida em que houver alguém lá para observar o fato. É claro que numa interpretação mais literal, teremos que considerar se a própria árvore não é uma consciência observadora, afinal ela experimenta a realidade tanto quanto nós.


Astrólogos de maneira geral adoram usar a física quântica para defender suas teorias, mas raramente vemos a astrologia se referir à questão da consciência e como essa se aplica na leitura do mapa astral. De fato, grande parte, se não a maioria, gosta de se dizer ‘intuitivo’ ou ‘artístico’, mesmo quando seu comportamento é decididamente científico: estão tentando descrever os fatos da astrologia e não buscando um entendimento completo. O papel da ciência é de descrever o que ocorre no mundo natural – o que, quando, como, onde, etc. Ela é incapaz, no entanto, de responder ao ‘por quê’. Podemos medir a constante gravitacional de várias formas, mas ninguém sabe dizer por que a gravidade existe.


Da mesma forma, muitos astrólogos se preocupam em descrever os fatos e acontecimentos, sem nunca se perguntar por que isso tudo ocorre dessa forma. Não há fim à lista de parâmetros e termos e cálculos empregados – hoje Marte faz quinqueundecil a Saturno, e o asteroide Tisífone está contra-paralelo a Quíron! Infelizmente essa busca incessante por refinamento e detalhe nos faz perder a floresta pelas árvores: quanto maior a coerência, menor a coesão. Poderíamos até dizer que essa obcessão com uma análise puramente objetiva da astrologia é exatamente um mecanismo de defesa que nos protege de ter que encarar a totalidade subjetiva de nossa existência.


Tendo em vista o efeito do observador, podemos começar a esboçar uma nova visão do mapa astral, uma visão que percebe o mapa como ferramenta através da qual nossa consciência subjetiva ‘colapsa’ os potenciais infindos da realidade. Afinal, o mapa astral que usamos apresenta a posição dos astros como vistos por nós aqui na Terra, e não um posicionamento objetivo, ou seja, o mapa descreve aquilo que vemos e não aquilo que está de fato acontecendo (se é que está acontecendo). Os astros são apenas uma tela sobre a qual projetamos nossa dinâmica psíquica, que por si só contém todo o Universo.


Nessa perspectiva, as casas do mapa descrevem não os acontecimentos externos, mas as pessoas e objetos e locais sobre os quais projetamos essa ou aquela característica. A astrologia psicológica frequentemente descreve a Casa VII como sendo a ‘casa das projeções’, mas a verdade é que todas as casas são as casas das projeções. Na Casa VII projetamos sobre nossos parceiros, na Casa IX sobre nossos professores, e na Casa I projetamos sobre nós-mesmos.


Considere por exemplo um indivíduo que tem Marte na Casa I, e outro com Marte na Casa VII. Marte representa, entre outras coisas é claro, a ‘agressão’, portanto a casa onde Marte se encontra é aquela casa onde tenderemos a projetar nossas vivências de agressão. Imagine então que por algum motivo esses dois indivíduos brigam e lutam. Aquele com Marte na Casa I conta a seus amigos mais tarde: “dei uma bela porrada no cara, desci o cacete nele”. O outra relata: “o cara partiu pra cima de mim, me atacou”. Ou seja, o primeiro projetou a agressão sobre si mesmo (extroversão), e o segundo projetou a agressão sobre o outro (introversão), apesar de os dois terem vivido exatamente a mesma experiência.


No psiquismo desses indivíduos, existe tanto agressão quanto pacifismo – nada existe sem seu oposto polar, não há ímã de um só pólo. Quando eles observam um devido fenômeno, suas consciências irão ‘colapsar’ esse fenômeno em um de dois potenciais, dependendo das distorções indicadas pelo mapa: um ‘colapsa’ a agressão sobre si mesmo, o outro o contrário. Dessa forma, ambos criaram suas realidades ao decidir observar um ato de agressão, mesmo se eles o viram em ‘locais’ diferentes.


Resumindo, para nós, o valor da astrologia e da leitura dos mapas astrais se encontra na possibilidade que nos oferecem de recuperarmos nossas próprias projeções. Pouco importa se eu sou um lutador de UFC ou se assisto a lutas na TV, em ambos os casos fui eu que decidi viver a agressão. O mapa não fala da realidade, e sim de como irei perceber essa realidade em que tudo é e não é ao mesmo tempo. Nós somos Deus se conhecendo.



Bruno dos Santos Costa, astrólogo

Fonte: https://erisastrologia.wordpress.com/2015/06/03/deus-no-diva/


 
 
 

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