Introdução à astrologia: os quatro elementos
- Bruno dos Santos Costa
- Jun 29, 2016
- 14 min read
Antes de falarmos de signos ou astros ou aspectos, temos que ver quais são os pilares que sustentam não só a astrologia mas tudo aquilo que entendemos como realidade. Esses pilares são os quatro elementos da natureza: Fogo, Ar, Terra e Água. A divisão em quatro é elementar, e é forma em que o ser humano instintivamente divide um círculo (uma unidade).

Mas comecemos do começo. O mais irredutível que há em nosso universo é a polaridade. Até o próprio conceito de unidade é uma polaridade, uno e não uno. É um conceito que não precisa de muita elaboração: ‘positivo’ e ‘negativo’, ‘masculino’ e ‘feminino’, ‘dia’ e ‘noite’, pra cima e pra baixo, pra frente e pra trás, etc. Como qualquer físico te dirá, não existe ímã de um polo só.
Mas se o próprio conceito de unidade é polar, podemos tomar os polos como sendo dualidades em si também. Se podemos falar de ação e reação, então podemos falar de ação positiva e ação negativa, e de reação positiva e reação negativa. Para dar outros nomes, podemos chamar a ação positiva de ‘calor’ (ou radiação) e a negativa de ‘frio’ (ou absorção), e reação positiva de ‘secura’ (ou tensão) e a negativa de ‘umidade’ (ou relaxamento).

No esquema acima, o eixo vertical é o eixo da ação, e o horizontal o eixo da reação. Ora, a realidade não é algo de estático e imutável, portanto é essencial considerar não apenas as quatro polaridades irredutíveis como também a forma em que elas interagem umas com as outras. Daí temos nosso quatro elementos: ‘fogo’ (quente e seco), ‘ar’ (quente e úmido), ‘terra’ (frio e seco) e ‘água’ (frio e úmido). Não consideramos quente-frio e seco-úmido como elementos, pois eles são reduzíveis. Em outras palavras, algo só existe em relação a seu oposto (não há quente sem frio, alto sem baixo, etc.), portanto os opostos não são duas coisas, mas uma só.

Voltando então à ideia que a divisão em quatro é a mais fundamental para o ser consciente (ou ao menos o ser terrestre), vemos essa divisão básica sob diversas formas. Só com as fases da Lua podemos ver a operação dos elementos:

As conotações são:
Lua Nova = vazio (terra)
Quarto Crescente = crescimento (ar)
Lua Cheia = plenitude (fogo)
Quarto Minguante = redução (água)
Daí pra fazer as associações com as outras divisões em quatro fica fácil:

Da mesma forma que a Lua Nova sugere a ideia de vazio, de ausência ou falta, o inverno também tem essa conotação; é no inverno que temos falta de comida, falta de energia, e por aí em diante. Repare a semelhança entre as palavras ‘inverno’ e ‘inferno’, por exemplo. Por isso associamos o inverno ao elemento terra. De fato, o signo (de terra) que começa o inverno é Capricórnio, e a figura do Demônio contém traços de cabra. Durante o inverno, as noites são mais longas, e temos a oportunidade de nos retrair pra dentro de nós mesmos.
Seguimos com o Quarto Crescente, associado à primavera. Lembramos que ‘ar’ é um elemento positivo, por isso a ideia de crescimento; ao mesmo tempo, ‘ar’ é fluido, o que traz o movimento. É na primavera que o pólen das plantas voa pelo ar para que a população das plantas cresça, que as sementes são plantas para prover o pão. Nada fica parado na primavera.
Já a Lua Cheia corresponde ao verão. É durante o verão que as temperaturas são as mais altas, assim como a Lua Cheia é quando a luz está mais intensa. No verão os dias são mais longos e as crianças brincam fora de casa. É um tempo de esperança, de esquecermos o sofrimento que passamos no inverno.
Para terminar, o Quarto Minguante é o outono, quando a luz está em plena redução. As folhas caem, as flores morrem, o que havia sido plantado já foi colhido. No entanto, essa redução, que chegará até o vazio da Lua Nova, é necessária para que cresça algo de novo no lugar. Sem a inundação do Nilo, a terra não seria fertilizada para o plantio. Como vimos acima, tudo é seu oposto, portanto a morte é necessária para que se haja vida.
Sob outro ponto de vista, repare que está quente durante a primavera e o verão, e está frio durante o outono e o inverno. Da mesma forma, a umidade é maior na primavera e no outono, e menor no verão e no inverno. Nada disso é coincidência (exceto no sentido técnico da palavra, em que duas coisas incidem juntas): todo o nosso universo é regido por certos princípios, portanto, não podemos considerar objetos distintos como estando submissos a princípios diferentes. Tudo é manifestação da mesma divisão primordial.
É exatamente aí que entra a astrologia. Ela não fala, como muitos entendem, a respeito da influência dos astros através de alguma força. Os astrólogos olham para os céus porque eles sabem que os astros do sistema solar estão submissos aos mesmos princípios que os acontecimentos na Terra, que a nossa própria psique segue as mesmas regras que as órbitas dos planetas. Assim na Terra como no Céu, afinal. Ou você realmente acha que é um mero acaso que a fórmula central de um dos modelos financeiros mais empregados é exatamente a mesma fórmula que descreve o movimento das partículas através de um líquido ou gás?
Sendo assim, sempre dividiremos nossas análises em quatro, respeitando os princípios elementares. Para isso, demos os seguintes quatro nomes às quatro formas de se buscar conhecimento:

‘Filosofia’ é o nome que damos a um entendimento “aéreo” acerca da realidade. O princípio central por trás do ar é a separação. O meio empregado pelo filósofo é de desconstruir um objeto ao máximo, para chegar a um entendimento do todo através da comparação entre as partes. A filosofia trabalha com ideias, abstrações – por isso ela não produz nada de ‘concreto’, ao contrário, por exemplo, da ciência. A filosofia é a dedução e a descrição, a busca do conhecimento através da mente.
Antes de abordarmos a ‘Mitologia’, no entanto, gostaríamos de falar um pouco sobre a ideia do ‘complexo’. Os quatro elementos são os princípios irredutíveis por trás da realidade, mas nada será composto de apenas um dos elementos. Um gás, por exemplo, é ‘ar’, mas ao mesmo é ‘terra’ por ser algo de algo de material. Podemos dizer, portanto, que os indivíduos – que sejam seres humanos, animais, plantas, ou até minérios – são uma combinação elaborada dos quatro elementos, em diferentes proporções e com diferentes relações. Por isso, empregaremos bastante o termo ‘complexo’ – uma combinação/interação única dos princípios arquetipais.
É por isso que não é, na verdade, possível dizer que a filosofia é puramente ‘ar’. Um filósofo também precisa de certo grau de intuição, por exemplo, que é associada ao elemento fogo. O ‘ar’ é apenas o elemento predominante. Em todas as disciplinas, o elemento predominante é auxiliado por um elemento secundário – por isso que diremos abaixo que ‘Filosofia’ é ‘Ar(-Fogo)’, ou seja, o mental da filosofia não serve pra nada sem a ajuda de um ‘espírito progressista’…
Mas voltemos ao ponto principal. Em seguida temos a ‘Ciência’, ou seja, a quantificação e a medição de dados. Ela trabalha com o concreto, com o reproduzível. A ‘Ciência’ busca reduzir um complexo a suas características constitutivas, e a verdade será atingida através do acúmulo de informação. A ‘Ciência’ se limita ao que é do mundo físico, é o estudo do ‘corpo’.
O termo ‘Mitologia’ não deixará de causar controvérsia por se referir também à religião, por isso deixamos claro que o princípio por trás dele é o espírito, ou seja, uma sessão de Ouija ou um ritual de magia negra é tão ‘religioso’ quanto uma missa católica. Não devemos entender religião como dogma, mas como uma tentativa de compreender o que é essa realidade tão misteriosa, qual é nosso propósito – pra que serve todo esse universo, afinal? A ‘Mitologia’ é o pensamento simbólico e imagético, a tentativa de se levar a multiplicidade de volta à unidade da qual ela veio. Para o ‘espírito’, o todo é sempre mais que a soma das partes.
Finalmente, a última abordagem é a ‘Psicologia’ – a busca da verdade através da ‘alma’. É difícil descrever ou conceituar a ‘água’, portanto deixaremos essa elaboração mais pra frente. O importante para a ‘Psicologia’ é o sentimento, como os eventos do mundo externo refletem os eventos do mundo interno. Depois de passarmos uma água pelas abordagens anteriores, o que sobrará? De fato, a função do psicólogo é de “matar” seu paciente…
Filosofia: Ar(-Fogo)
O mapa natal
A própria astrologia é uma forma de filosofia, no sentido em que ela estuda uma série de parâmetros e relações lógicas entre diversos elementos. De fato, tradicionalmente a astrologia é associada ao planeta Mercúrio, e na modernidade a Urano, ambos planetas de ‘ar’. O estudo de um mapa considera quatro fatores principais: signos, casas, planetas (ou astros) e aspectos. Temos então a seguinte relação:

O ‘fogo’ é representado pelos planetas. As principais qualidades dos planetas são seu dinamismo e sua unicidade. O estudo dos planetas é sempre feito em relação a seu movimento, e eles existem independentemente, ao contrário dos signos e casas, que só existem em relação aos outros. Tanto que Urano, Netuno e Plutão só foram descobertos após o século XVII, mas isso nunca impediu os outros planetas de serem estudados.
O ‘ar’ é representado pelos signos. Os signos são abstrações, ideias, ou seja, não existem no mundo concreto, material, como “coisa”. São conceitos platônicos, no sentido em que podemos pensar a respeito deles, mas nunca conseguiremos entendê-los por completo*, devido às limitações impostas a nós por nossos corpos e pelo mundo material de maneira geral.
A ‘água’ aparece sob a forma dos aspectos. São os aspectos que estabelecem as ligações entre os diversos elementos do mapa, da mesma forma que a água dos mares liga os diversos continentes e ilhas terrestres entre si. Ela também pode ser vista como a correnteza pelas quais passam os astros, na forma de tempo.
Finalmente, as casas são do elemento ‘terra’. As casas são a “concretização” das ideias dos signos. Por isso, há uma relação entre, por exemplo, Áries e a Casa I, mas seria incorreto dizer que são a mesma coisa. De fato, as casas representam o próprio corpo físico do indivíduo. A própria ideia de “casa” já é uma indicação, afinal uma casa é uma manifestação concreta da ideia abstrata que é o plano da casa.
* Em 1931, o filósofo austríaco Kurt Gödel demonstrou que um sistema não pode demonstrar sua própria consistência, ou seja, que os axiomas de um sistema não podem ser provados pelas regras do próprio sistema. Isso significa que um sistema pode ser coerente ou completo, mas nunca ambos. Por isso, ao estudarmos os signos, sempre buscamos coerência mais do que completude: o estudo da astrologia nunca será completo, pois estamos encarnados, ou seja, inevitavelmente dentro do sistema.
As operações aritméticas
A princípio pode parecer estranho incluir as operações matemáticas em “Filosofia” e não em “Ciência”. Ora, a matemática não é uma ciência. Ela trabalha com a lógica, e é de fato uma abstração pura. Os números não existem como fato concreto, e a matemática independe de dados sensoriais. Em outras palavras, a matemática não é uma descrição do mundo natural enquanto fenômeno, mas sim uma tentativa de entender o “plano” do mundo, ou seja, as regras às quais a própria existência está submissa.
Temos então a multiplicação como sendo ‘fogo’, e a imagem de um fogo se alastrando já deixa bem claro por quê. Em seguida, a divisão é ‘ar’: a divisão nada mais do que a inserção de um “espaço” entre as diversas partes de um todo. A subtração é ‘água’, com sua conotação de morte e finalidade, de se “esvaziar”. Finalmente, ‘terra’ é a adição, ou seja, o acúmulo.
As operações são interessantes no sentido que elas podem ser agrupadas de formas distintas. Por um lado, temos as operações conjuntivas (adição e multiplicação) e as disjuntivas (subtração e divisão). De acordo com o gráfico acima, vemos que as conjuntivas são justamente as dos elementos opostos: os irracionais, ‘fogo’ e ‘terra’, e os racionais, ‘água’ e ‘ar’.
Por outro lado, numa operação matemática devemos resolver primeiro a multiplicação e a divisão, e em seguida as adições e subtrações. Ou seja, o positivo (‘fogo’ e ‘ar’) vem antes do negativo (‘água’ e ‘terra’). Vemos aqui então o porquê de nosso DNA ter quatro nucleotídeos-base ao invés de dois (o sistema binário de um computador): “4” permite uma complexidade bem maior do que “2”.
Os próprios símbolos das operações (e aqui já usamos mais a intuição) sugerem os elementos. Na divisão, temos um falo masculino que separa uma unidade (ponto) em duas. Já o símbolo para a adição é a própria cruz, frequentemente chamada da “cruz da matéria”. O centro do ‘x’ da multiplicação pode ser visto como o ponto de fuga, onde o múltiplo se torna uno. A subtração, por último, é o mais simples dos símbolos, sugerindo a falta, o vazio – só não é um espaço em branco por motivos de praticidade.
As causas aristotélicas
De acordo com Aristóteles, a investigação filosófica é acima de tudo uma investigação acerca das causas das coisas. Ele tentou sistematizar essas causas, acreditando que seus predecessores eram imprecisos ou lacônicos, e chegou a quatro causas essenciais:

Para exemplificar, consideremos a construção de uma casa. Sua causa material é, como o nome implica, a matéria usada nessa construção, ou seja, cimento, madeira, barro, etc. A causa eficiente é quem ajudou a construir a casa: marceneiros, pedreiros, etc. A causa formal é o plano segundo a qual a casa é construída. Finalmente, A causa final é o propósito da casa, no caso abrigar certa família.
As associações aos elementos são fáceis. A causa final é ‘fogo’, pois é a causa que está olhando para o futuro, que considera o significado; a formal é meramente uma ideia, não existe como fato concreto, mas apenas como abstração; a eficiente corresponde a ‘água’ devido à implicação de passagem do tempo (ver abaixo) e por enfatizar as relações; por último, a material é associada a ‘terra’…bom, essa não precisa nem falar mais nada.
Ciência: Terra(-Ar)
A realidade
Quando se ouve falar dos quatro elementos, não se deve entender aquilo que compreendemos como sendo ‘água’, ‘fogo’, ‘terra’, e ‘ar’. Um entendimento simbólico do que nos é passado através das tradições esotéricas (lembrando que até o Iluminismo não havia distinção entre esotérico e exotérico) é a verdadeira chave do entendimento, ou ao menos da coerência do mundo físico.

O esquema acima mostra os dois eixos dos componentes da realidade. Como representado pela equação e=mc2, a energia e a matéria são opostos equivalentes. Da mesma forma, como demonstrado por Einstein (novamente!), o tempo é apenas uma dimensão do espaço, tornando-os opostos equivalentes também. Assim como algo não pode ser matéria e energia ao mesmo tempo, um elétron não pode ser uma partícula e uma onda ao mesmo tempo.
Tudo que pode ser descrito pode ser descrito em relação aos quatro elementos acima. Por exemplo, nós podemos, conscientemente (‘ar’-‘fogo’), nos deslocar no espaço (‘ar’), mas o tempo (‘água’) está além do nosso controle, assim como o inconsciente (‘terra’-‘água’).
A energia e a matéria são o que podemos chamar de concreto. O tempo e o espaço não são coisas que podemos “tocar” – são, portanto, abstrações. Repare que, curiosamente, é exatamente o concreto que forma o eixo irracional da cruz elementar, enquanto apenas abstrações podem ser chamadas de racionais.
Os estados da matéria
Toda matéria se encontra sob um de quatro estados fundamentais. As correspondências aos elementos são óbvias:

Talvez o que mereça mais explicações é o plasma. Apesar de ser o menos discutido, o plasma é o estado mais comum no universo. As estrelas, os raios e as faíscas elétricas são exemplos de matéria que se encontra nesse estado. Daí, as ligações ao elemento fogo ficam claras. O plasma é caracterizado por conter partículas carregadas. Um gás pode se tornar um plasma através do calor ou de um campo magnético, ambos os quais pertencem simbolicamente ao elemento ‘fogo’.
O circuito elétrico
O circuito elétrico também é caracterizado por quatro elementos básicos:

A voltagem (volts) de um circuito é a diferença de potencial entre dois pontos, ou seja, podemos ver isso como uma expressão da ideia de separação, de um ‘espaço’ colocado entre forças que se atraem. Essa diferença de potencial gera, exatamente, uma potência (watts), ou seja, uma energia no sistema. Cria-se uma corrente (ampères) que descreve o movimento das partículas carregadas pelo circuito. E por ser um sistema concreto, haverá resistência (ohm), a oposição da matéria ao movimento das partículas. E a fricção de matéria com matéria gera o quê? Energia.
Mitologia: Fogo(-Água)
Os naipes
Uma divisão em quatro muito comum, sob forma de imagens ou símbolos, é a divisão de um baralho de cartas em naipes. As cartas que conhecemos advêm, como se pode imaginar, do tarô, mais especificamente dos arcanos menores. Esses arcanos são divididos em quatro naipes, que se transformaram nos naipes das cartas de jogo:

Os nomes dos naipes são mais literais no tarô:

Temos aqui os ases: de paus (‘fogo’), de copos/copas (‘água’), de espadas (‘ar’) e de pentáculos/ouros (‘terra’). Reparem que, no baralho comum, os naipes pretos são os masculinos, e os vermelhos os femininos. Quase que literalmente, toda vez que jogamos pôquer, buraco, truco, que quer que seja, estamos de fato jogando o próprio tarô, e manipulando os elementos como alquimistas. O fato de o simbolismo das cartas ser ignorado hoje em dia não o torna inexistente.
O re/nascimento de Osíris
O mito de Osíris é provavelmente a mais influente estória da mitologia egípcia. Nele figuram quatro personagens centrais: Osíris (‘água’), Ísis (‘terra’), Hórus (‘fogo’) e Set (‘ar’).
Osíris era o rei do Egito, e sua consorte era Ísis. No entanto, ele é morto (‘água’ = -) pelo seu irmão Set, que usurpa seu trono. Set é, portanto, o “separador”: de fato, ele corta o corpo de Osíris em inúmeros pedaços (‘ar’ = ÷) e os espalha pelo mundo. Mais tarde, Ísis junta os pedaços (‘terra’ = +) de Osíris, que passa a ser o rei da Duat, o reino dos mortos. Não requer um grande salto associar o reino dos mortos ao inconsciente, deixando clara a ligação de Osíris à água.
O único pedaço de Osíris que Ísis não encontrou foi seu falo. No entanto, ela pode usá-lo para conceber um filho (‘fogo’ = x), Hórus. Hórus é uma representação da consciência solar e da individuação, o “fogo que surge da água” (essa imagem é frequente nos mitos de criação de inúmeras culturas). Sua mãe o esconde até que ele se torne um adulto, quando enfrenta Set para reclamar o trono de seu pai. O ‘ar’ briga com o ‘fogo’.
Curiosamente, em um dos episódios da disputa, Set agride sexualmente a Hórus, dando a ele uma conotação de homossexualidade – ‘ar’ é masculino, mas é mais “afeminado” que ‘fogo’. Compare, por exemplo, Conan o Bárbaro (fogo) com Don Juan (ar). Mais adiante, Hórus corta os testículos de Set, mostrando que ele é o mais viril e forte.
No final, o deus Geb determina que Hórus é o novo rei do Egito, e Hórus e Set se reconciliam. Este último momento mostra a resolução da dualidade/quadruplicidade: os opostos deixam de ser um paradoxo e passam a existir como uma consciência maior. Os quatro elementos se tornam o quinto elemento.
Convidamos o leitor a fazer suas próprias associações ao mito de Cristo (Pai-Filho-Espírito Santo-Maria), a Hamlet (Príncipe-Rei-Tio-Mãe) e de aí em diante.
Os arcanjos
Na tradição cabalística, os quatro elementos são frequentemente representados pelos quatro arcanjos: Miguel/Michael, Rafael, Gabriel e Uriel/Auriel.
O arcanjo Miguel é invocado para trazer confiança e energia, a clarificar intenções e vencer o medo. Podemos, portanto, facilmente ligá-lo a ‘fogo’. Rafael é invocado para ajudar com cura (ou seja, a “pensarmos sobre a doença”) e como protetor dos viajantes, sendo ele então a representação de ‘ar’. Gabriel é o “mensageiro inconsciente”, padroeiro das crianças, dos pais, e da fertilidade – foi ele que anunciou a Maria (“mar”-ia) que estava grávida do filho de Deus. Gabriel é então a representação de ‘água’. Finalmente, Uriel, do elemento ‘terra’ (o elemento “pesado”), está associado à queda e à destruição, e é ele que o guardião do Éden.
Um ritual comum usado para proteção é o Ritual Menor do Pentagrama, onde os arcanjos são invocados pelo mago. No ritual, o mago se vira em direção ao leste e diz: “Diante de mim, Rafael. A minha direita, Miguel. Atrás de mim, Gabriel. A minha esquerda, Uriel.” Vemos aí no eixo leste-oeste os elementos ditos ‘racionais’, ar e água, e no eixo norte-sul os ditos ‘irracionais’.
Psicologia: Água(-Terra)
O eixo ‘ar’-‘água’ pode ser entendido como a dualidade ‘ordem’-‘caos’. ‘Ar’ quer classificar, categorizar e entender, enquanto ‘água’ prefere dissolver, diluir e se deixar levar. Nosso nome é Eris Astrologia, portanto é natural que queiramos dar uma atenção mais focada ao ramo “caótico” do conhecimento: a psicologia.
Em breve, publicaremos artigos separados para discutir os quatro elementos na psicologia. Começaremos com Freud e o que podemos chamar de órgãos psíquicos: superego, ig, id, e ego. O “ig” não é um conceito próprio do Freud, e sim da Freud Astrologia, mas nós o empregamos. Não surpreende que Freud não tenha conceituado algo como o ig, mas seu mapa mostra que lhe faltava bastante ‘fogo’.
Em seguida, veremos as quatro funções da psique, como descritas por Carl Jung. O próprio Jung tinha um enorme interesse nos quatro elementos, o que é natural, dada sua propensão ao pensamento simbólico. Não será nenhuma grande surpresa descobrir que o mapa natal da Eris Astrologia também contém uma boa quantidade de ‘fogo’…
Finalmente, apesar de parecer injusto resumir todas as formas de terapia a apenas quatro, dividiremos a prática da psicologia em quatro métodos essenciais, com a ajuda dos mapas de Freud, Jung, Moreno e Skinner.
Abaixo estão os diagramas que serão propostos. Enquanto não publicamos, não tenha medo de arriscar suas próprias hipóteses a respeito dos elementos na psicologia.
Conclusão

Fica explicada, portanto, a logo da Eris Astrologia. O caos pressupõe um movimento constante dos quatro elementos irredutíveis da nossa realidade. Nosso objetivo não é detalhar ou explicar a astrologia, e muito menos chegar a uma Verdade absoluta. Como Jung, não buscamos definir nada, mas sim conceituar. Por isso trabalhamos com símbolos, com imagens, e com uma certa verborragia. De fato, temos o Mercúrio em Peixes, então seria tolice buscar a precisão.
A seguir, veremos como os quatro elementos se tornam doze arquétipos, através do conceito das qualidades – cardeal, fixo, mutável.
Bruno dos Santos Costa, astrólogo
Fonte: https://erisastrologia.wordpress.com/introducao-a-astrologia-os-quatro-elementos/
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