Não Faça Dieta, Faça Amor
- Maria Luísa Macedo
- Jul 19, 2016
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Ao nos deparamos com representações do corpo feminino desde os primórdios até o início do século XX, podemos notar que ele sempre é retratado de maneira rechonchuda. Ao contrário do corpo masculino saudável, que tende a ser alto e esguio, o corpo feminino saudável exibe fartura - de fato, a fertilidade da mulher está ligada ao seu peso e às suas curvas. Todavia, tudo isso mudou por volta do ano de 1920, quando a maioria das mulheres ocidentais recebeu o direito ao voto.
De acordo com a historiadora de moda Ann Hollander, nunca, até a emancipação da mulher ser reconhecida perante a lei dos homens, houve tal absoluta negação da condição feminina original e a imposição de um padrão de beleza caracterizado pela “aparência doentia, a aparência da pobreza e da exaustão nervosa”. Hollander também chama nossa atenção para o fato de que entre os anos de 1918 e 1925 “a rapidez com a qual a forma linear substituiu a forma mais cheia de curvas é surpreendente”.
O corpo feminino faminto que nos é apresentado como o único ideal de beleza a ser perseguido foi a solução encontrada pela cultura patriarcal que nos cerca para os perigos representados pelo movimento feminista e pela liberdade econômica e reprodutiva das mulheres. De fato, a fixação sócio-cultural com a magreza feminina não é uma fixação pela beleza feminina, mas sim pela obediência feminina. A verdade é que o patriarcado deu um golpe de mestre ao transformar as mulheres em suas próprias algozes.
Primeiramente, fora Temer. Em segundo, devo deixar claro que aqui estamos tratando do tema da dieta compulsória e obsessiva, não da busca por uma alimentação saudável e balanceada. Ao tratar do tema da dieta, também devemos ter clara a noção de que a fome destrói a individualidade. Roberta Pollack Seid afirma que “a privação do alimento detona obsessões pela comida por motivos tanto físicos quanto psicológicos. (...) A desnutrição produz a preguiça, a depressão e a irritabilidade. (...) E a fome leva o faminto a ficar obcecado pela comida”. Portanto, a mulher magra ideal não é um ideal estético, mas um ideal político. Dessa maneira, uma mulher inserida em nosso contexto sócio-cultural, que foi bombardeada com a ditadura da dieta e seus mitos desde que saiu do útero materno, focará seus pensamentos em cálculos calóricos, substituições alimentares e exercícios físicos incensáveis ao invés de dedicar sua mente e seu tempo aos movimentos políticos, problemas sociais, formas de se exprimir criativamente, etc…
Em O Mito da Beleza, Naomi Wolf afirma que “o hábito da dieta é o mais possante sedativo político na história feminina”. Segundo Wolf, a fome prejudica nós mulheres a experienciarmos controle, liderança e segurança econômica, algo inexistente na realidade social de nossas bisavós e avós. Todavia, a dieta não nos prejudica somente a nível político. Estudos apontam que o hábito de fazer dieta está ligado ao desenvolvimento de doenças como a anorexia e a bulimia, doenças nas quais 95% das vítimas são mulheres.
Todas nós mulheres passamos ou já passamos por algum momento em que odiamos o nosso corpo. De fato, a ditadura da dieta faz com que a maioria de nós experienciemos desconforto e inadequação em relação aos nossos corpos, assustadoramente, tais sentimentos estão atingindo à nós mulheres cada vez mais cedo. Quem nunca se espantou com uma criança falando que estava muito gorda?
Meu intuito ao escrever esses pensamentos é o de começar uma revolução! Contudo, sozinha eu não posso nada, preciso de você, minha irmã. Portanto, proponho que cada uma de nós possa se encher de coragem para conhecer, aceitar e apreciar nossos corpos respeitando seus limites. Proponho que façamos o melhor para desenvolvermos o controle mental necessário para ignorar as imagens da ditadura da dieta que nos soterram todos os dias buscando nos rebaixar. Proponho que eu seja bonita do meu jeito e você bonita do seu jeito e que possamos ser bonitas juntas. Proponho que possamos amar nós mesmas e nossas companheiras mulheres e, assim, possamos nos apoiar.
Acredito que posso soar idealista. Contudo, o senso crítico aplicado ao dia a dia nos permite tomar escolhas para sermos melhores do que somos. Todas as pessoas inseridas em nossa sociedade estão sujeitas a reproduzir seus preconceitos, porém, nós podemos perceber esse comportamento em nós mesmas e buscar mudá-los. De tal maneira, podemos nos tornar mais gentis com nós mesmas e com todas as pessoas que nos rodeiam. A mudança é gradual, individual e coletiva, e ela acontece principalmente quando nós podemos partilhar umas com as outras.

Animastê,
Maria Luísa Macedo
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