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O universo dentro de nós

  • Bruno dos Santos Costa
  • Jul 20, 2016
  • 6 min read

O círculo zodiacal


Talvez a ideia mais importante a se levar em conta quando lemos nosso mapa é a de que “Os doze signos (e os dez astros) estão dentro de mim”. O grande erro cometido não só pelos iniciantes, mas até pelos profissionais, é o de analisar o mapa lendo apenas as casas/signos onde há astros ou outros pontos importantes. No entanto, todos os arquétipos estão presentes em nós, e serão apenas mais ou menos expressados em devidas situações ou certos ambientes.


Consideremos uma ideia mais simples. Na mitologia grega, de acordo com Platão, os seres humanos originalmente eram duplos: tinham 4 braços, 4 pernas e 2 caras. Zeus, no entanto, temia seu poder, então dividiu todos em dois, um homem e uma mulher. Estariam todos, assim, fadados a passar sua vida buscando sua outra metade. Daí vem a ideia de ‘alma gêmea’, ou ‘amor predestinado’.


Uma das situações que faz rir a alguém que tenha desenvolvido sua intuição o suficiente é ver um ‘concretista’ interpretar mitos como fatos reais. É o caso, por exemplo, dos literalistas bíblicos que discutem entre si quais figuras históricas teriam sido os ‘anti-Cristos’ descritos no Livro do Apocalipse. Mas não são apenas eles que cometem esse erro. Muitos acreditam que os mitos são apenas formas de explicar o inexplicável (ex.: um raio é Zeus que está irritado com alguém), e de fato são às vezes usados dessa forma, mas mitos são na verdade uma ‘transliteração’ dos arquétipos, ou seja, uma forma de expressar as bases constituintes do universo em uma linguagem que seja compreensível pelo ser humano, mesmo que inconscientemente.


Ou seja, no mito da origem do ser humano, não é o caso que éramos literalmente 2-em-1. O que o mito expressa é que, enquanto cada um terá os órgãos genitais de um ou outro sexo (ou às vezes os dois, ou nenhum), todos são ao mesmo tempo homem e mulher, arquetipicamente. A ‘cisão’ praticada por Zeus nada mais é do que a crença ‘civilizatória’ de que somos isso ou aquilo, mas não tudo. O que o mito quer dizer é que todos nós contemos o universo dentro de nós, e é exatamente isso que é mostrado no mapa natal.


Todo mapa contém os doze signos, as doze casas e os dez astros (pode não ter todos os aspectos, mas todos aparecerão cedo ou tarde graças aos trânsitos). Todos nós temos um lado aquariano e um lado leonino. Todos nós realizamos atos no mundo através de Marte. Todos temos origens e raízes, expressas na Casa IV, e assim por diante.


Portanto, nunca se esqueça: “todos os signos estão dentro de mim”. Mesmo aquele ser mais libriano de todos irá ver a raiva sendo expressa através dos outros, ou seja, essa raiva também está dentro dele, caso contrário ele não seria capaz de reconhecê-la, como supostamente aconteceu com os índios que simplesmente não enxergaram as naus portuguesas por estas estarem totalmente além de seus conceitos.


Para explicar o que representa o mapa, gostamos de fazer uma analogia a um rio. Consideremos um rio que emerge de uma fonte. A água fluirá de acordo com a qualidade e a quantidade da água subterrânea – essa é nossa energia vital (ou psíquica, ou libidinal, enfim), e será única a cada um. No entanto, a partir do momento que a água emerge, ela fluirá de acordo com a topografia do local, ou seja, com as características físicas do local onde se encontra. Alguns terão um caminho direto e suave até o mar; outros terão que percorrer vias tortuosas e complicadas.


É por isso que gostamos de descrever o mapa natal como a ‘topografia’ natural da psique de cada indivíduo, ou seja, é como nossa energia psíquica flui de acordo com a determinação terrestre, de acordo com a ‘encarnação’. O mapa nos ‘predetermina’ na mesma medida em que nosso DNA nos predetermina: nenhum tipo de esforço irá tornar um baixinho jogador da NBA, assim como nenhum homem alto poderá se tornar jóquei. Não temos a escolha de ‘trocar de corpo’, assim como não temos a escolha de ‘trocar de mapa’, mas nada nos impede de fazer o que bem quisermos com nosso corpo ou nosso mapa.


O perigo reside justamente na identificação (passiva). Quem se contenta com as características, por exemplo, do Sol em Libra (“sou libriano, portanto sou assim/assado) acabará deixando de lado seu lado ariano, que acabará projetando nisso ou naquilo, dependendo de onde se encontra o signo de Áries em seu mapa. Por exemplo, se essa pessoa tem o Sol em Libra no Ascendente, a tendência será que recalque suas características arianas ao se ‘sobre-identificar’ com Libra e as projete em algum ‘7-parceiro’ (Áries estará no Descendente, ou Casa VII). Você não precisa ser Jung pra adivinhar que a ‘sombra ariana’ dessa pessoa não irá demorar para aparecer na forma de algum parceiro violento/impulsivo/etc.


Em conclusão, apesar de focarmos nesse ou naquele signo ou astro em nossas análises iniciais, todo o mapa deve ser levado em consideração na interpretação. A nossa ‘topografia’ interna nos dificultará isso ou facilitará aquilo, mas todos os arquétipos irão aparecer cedo ou tarde. A realidade é, afinal, de nossa própria criação, e todos nós a contemos integralmente. Na nossa visão, a função da astrologia é justamente permitir que possamos ‘recuperar’ nossas projeções, e entender como nossa vida é uma manifestação única de todo o Universo (ou pelo menos do Sistema Solar).


Os ângulos


Apesar de dividirmos nossos textos em signos, astros, etc., iremos fazer análises de certos mapas para cada para exemplificar. Por exemplo, na seção sobre Capricórnio, comentaremos dois mapas de pessoas que expressam o arquétipo capricorniano muito fortemente. No entanto, como vimos acima, é muito arriscado interpretar alguma característica em isolamento. É por isso que fazemos aqui um breve comentário sobre os ângulos no mapa.

Como vimos na primeira parte da introdução, a divisão mais essencial ao estudo astrológico é a divisão nos quatro elementos. Fica claro, portanto, que a ‘cruz central’ do mapa, formada pelas cúspides das casas I, IV, VII e X, será “crucial” (ha-ha) à interpretação. Ou seja, os signos e astros que estiverem próximos aos ângulos terão ‘acesso’ a uma quantidade maior de energia psíquica, e se expressarão, portanto, com mais força na vida da pessoa. As outras casas seriam desdobramentos naturais dos ângulos – daí a importância da divisão das casas em quatro quadrantes: o AC é o início do primeiro quadrante, o IC do segundo, etc.


Os ângulos correspondem, generalizando um pouco, aos quatro órgãos da psique. Trazemos aqui então as seguintes correspondências, mas não entraremos em detalhes por ora; apenas desejamos que o leitor tenha algum tipo de base ao ler nossas interpretações antes de ter passado por todos os signos, planetas, etc.

Astros angulares


Cada astrólogo usará um ponto de início diferente na análise, de acordo com suas próprias tendências. Alguns começam pelo Ascendente, outros pelo signo solar, e por aí em diante. No entanto, não foi de graça que enfatizamos os ângulos acima: eles são absolutamente essenciais e centrais à interpretação do mapa. Portanto, como delineado por Morin de Villefranche, astros que se encontrem naturalmente fortes serão de maior importância ainda quando estiverem próximos aos ângulos.

No exemplo fictício acima, há três astros em casas angulares: o Sol e Mercúrio em Touro na Casa I, e Urano em Aquário na Casa X. O Sol sem dúvida será importante por estar próximo ao Ascendente; no entanto, o Sol está ‘peregrino’ em Touro (nem bem, nem mal), enquanto Urano está domiciliado. Portanto, esse indivíduo certamente expressará muito fortemente o 11º arquétipo (repare que ainda há dois astros na Casa XI), independente do Sol e dos outros astros – sobretudo quando se sentir defensivo, já que estamos falando da Casa X.


Mas o que fazer quando há mais de um astro? Vejamos outro caso:

No exemplo acima, há quatro planetas angulares. O Sol e Plutão se encontram igualmente angulares e domiciliados, então qual será mais pesado? Desconsiderando outros fatores, como aspectos favoráveis ou desfavoráveis, os astros serão efetivamente co-dominantes: o Sol irá aparecer mais em situações de Casa X, de postura defensiva, enquanto Plutão irá se expressar mais nos assuntos de Casa I, de postura ativa. Não é uma situação fácil, no entanto: você não precisa ser rei pra saber que dividir o trono acaba não agradando ninguém.


O ponto inicial


Costuma-se iniciar, nos textos sobre a astrologia, com o primeiro arquétipo – Áries, ou a Casa I. No entanto, como o zodíaco é um círculo, não há começo nem fim: começamos onde quisermos, e todo ponto pode ser um ponto inicial válido. Em outras palavras, o ponto de início é sempre arbitrário.


Começaremos nossas divagações por Capricórnio, por um simples motivo, que ficará mais claro no artigo. Resumindo, o Meio do Céu é o que podemos chamar de ‘ponto de transcendência’ – em Sagitário, somos ‘julgados’ por uma força maior (nós mesmos, na verdade, mas não vamos complicar). Se o julgamento é em nosso favor, saímos finalmente do ciclo, da encarnação, enfim, do que seja. “Transcendemos”. Ora, ainda estamos aqui, então o julgamento foi negativo, e estaremos fadados a iniciar outro ‘ciclo cármico’ – em Capricórnio. Repare que, se olharmos mais literalmente para o zodíaco, Capricórnio é o começo da ‘queda’ (inversamente, Câncer é o começo da ‘subida’) – ou seja, devemos rever aquilo que não foi aprendido ou realizado. Saturno, regente de Capricórnio, é afinal o ‘Senhor do Carma’…


Há outros fatores que sugerem Capricórnio como ‘ponto de partida’, mas não nos adiantemos demais.



Bruno dos Santos Costa, astrólogo

Fonte: https://erisastrologia.wordpress.com/o-universo-dentro-de-cada/

 
 
 

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