A Arte de Amar
- Biba Habka
- Jul 28, 2016
- 4 min read
Um pouco longo para um texto de redes sociais, mas acredito que possa ser extremamente edificante e transformador para todos, assim como foi para mim.
Erich Fromm, psicanalista da Escola de Frankfurt, sobre o amor, que segundo ele, "é a unica resposta sadia e satisfatória para o problema da existência humana." Do livro "A arte de amar". Leiam, com muito amor!

O encontro do conhecimento com o amor, como trata nesse livro, é o único caminho para lidarmos com a separação ou a loucura. O amor, assim como toda arte, requer disciplina, conhecimento, paciência, humildade... E mesmo assim, como toda arte, no amor também existem conflitos. Assim como tudo na vida, é um conflito entre os opostos. Segundo Heráclito, "entramos no mesmo rio, e contudo não no mesmo; somos nós e não somos nós". É a partir dessa ideia que surge o pensamento da impermanência, da constante mudança. Nesse sentido, o amor também muda. O autor difere os vários tipos de amor: amor romântico, amor erótico, amor materno, fraterno, paternal... Que ajudam a lidar e a entender (de diferentes formas) essa separação. Não vim aqui resenhar sobre o livro mas sim, falar sobre o efeito dessa leitura em mim. Contudo, é importante ressaltar algumas das ideias abordadas no livro.
Concordo plenamente com o autor quando diz que o amor é a unica resposta sadia e satisfatória para o problema da existência humana. Vivermos em um mundo no qual está cada vez mais difícil retornamos ao principio do amor - o autor trata o principio da sociedade capitalista que vivemos incompatível com o principio do amor. O amor é, então, a unica resposta e também um caminho para o auto conhecimento, por incluir várias questões como a fé (nos outros e em você mesmo), a coragem (capacidade de correr um risco), a atividade ("Se amo estou em constante estado de preocupação pela pessoa amada."), a responsabilidade, o respeito e o conhecimento.

O autor aborda o amor como uma força ativa no homem - "No amor, ocorre um paradoxo de que dois seres sejam um e, contudo, permaneçam dois". Essa foi uma citação que me tocou, assim como a ideia primeiramente abordada que o amor se dá. Mas se dá não querendo nada em troca! Só se dá, sem receber, sem esperar. Segue um trecho que devemos todos ler e levar para a vida:
"O amor é uma atividade, e não um afeto passivo: é um "erguimento” e não uma “queda”. De modo mais geral, o caráter ativo do amor pode ser descrito afirmando-se que o amor, antes de tudo, consiste em dar, e não em receber.
Que é dar? Embora pareça simples a resposta a esta pergunta, ela em verdade é cheia de ambiguidades e complexidades. O equívoco mais vastamente espalhado é o que entende que dar é “abandonar” alguma coisa, ser privado de algo, sacrificar. A pessoa cujo caráter não se desenvolveu além da etapa da orientação receptiva, explorativa, ou amealhadora, experimenta o ato de dar dessa maneira (...)
A mais importante esfera de dar, entretanto, não é a das coisas materiais, mas está no reino especificamente humano. Que dá uma pessoa a outra? Dá de si mesma, do que tem de mais precioso, dá de sua vida. Isto não quer necessariamente dizer que sacrifique sua vida por outrem, mas que lhe dê daquilo que em si tem de vivo: dê-lhe de sua alegria, de seu interesse, de sua compreensão, de seu conhecimento, de seu humor, de sua tristeza - de todas as expressões e manifestações daquilo que vive em si. Dando assim de sua vida, enriquece a outra pessoa, valoriza-lhe o sentimento de vitalidade ao valorizar o seu próprio sentimento de vitalidade. Não dá a fim de receber: dar é, em si mesmo, requintada alegria. Mas, ao dar, não pode deixar de levar alguma coisa á vida da outra pessoa, e isso que é levado á vida reflete-se de volta ao doador; ao dar verdadeiramente, não pode deixar de receber o que lhe é dado de retorno. Dar implica fazer da outra pessoa também um doador e ambos compartilham da alegria de haver trazido algo á vida. No ato de dar, algo nasce, e ambas as pessoas envolvidas são gratas pela vida que para ambas nasceu. Com relação especificamente ao amor, isso significa: o amor é uma força que produz amor, impotência é a incapacidade de produzir amor. Este pensamento foi belamente expresso por Marx: "Imaginai - diz ele - o homem como homem e sua relação com o mundo como uma relação humana, e só podereis trocar amor por amor, confiança por confiança, etc. Se quiserdes gozar a arte, devereis ser uma pessoa de preparo artístico: se quereis ter influência sobre outras pessoas, devereis ser uma pessoa que tenha sobre outras pesas influência realmente estimuladora e promotora. Cada uma de vossas relações com o homem e com a natureza deve ser uma expressão definida de vossa vida real, individual, correspondente ao objeto de vossa vontade. Se amais sem atrair amor, isto é, se vosso amor é tal que não produz amor, se através de uma expressão de vida como pessoa amante não fazeis de vós mesmo uma pessoa amada, então vosso amor é impotente, é um infortuno". Mas não é só no amor que dar significa receber. O mestre é ensinado por seus alunos, o ator é estimulado por sua audiência, o psicanalista é curado por seu cliente - contanto que não se tratem uns aos outros como objetos, mas se relacionem uns com os outros genuína e produtivamente.
Quase não é necessário acentuar o fato de que a capacidade de dar depende do desenvolvimento do caráter da pessoa. Pressupõe o alcance de uma orientação predominantemente produtiva; nessa orientação a pessoa superou a dependência, a onipotência narcisista, o desejo de explorar os outros, ou de amealhar, e adquiriu fé em seus próprios poderes humanos, coragem de confiar em suas forças para atingir seus alvos. No mesmo grau em que faltarem essas qualidades é ela temerosa de dar-se - e, portanto, de amar.
Além do elemento de dar, o caráter ativo do amor torna-se evidente no fato de implicar sempre certos elementos básicos, comum á todas as formas de amor. São eles: cuidado, responsabilidade, respeito e conhecimento."
Biba Habka
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