Capricórnio: exemplos
- Bruno dos Santos Costa
- Aug 17, 2016
- 8 min read
“O fracasso frequentemente nos permite analisar aquilo que o sucesso triunfantemente esconde de nós.” – Ursula K. LeGuin
O Pai Sombrio
Imaginemos por um momento que a história de Anakin Skywalker fosse diferente. Suponhamos que Anakin, ao invés de ser um escravo sem pai, tivesse sido criado por uma família comum. Um belo dia seria descoberto pelos Jedi e treinado por eles, e o Imperador não conseguiria manipular sua raiva para leva-lo ao lado negro da Força. O Imperador seria morto por Mace Windu, e fim de história. Tudo continuaria como era antes. Ninguém aprendeu nada.
Eis então a grande diferença entre Anakin e seu filho Luke. Por mais que Luke soubesse que seus pais biológicos estavam mortos, ele foi criado dentro de uma estrutura familiar, por mais ‘primitiva’ que fosse. Quando Uma Nova Esperança começa, Luke já passou pelo conflito edipiano e desenvolveu seus talentos e sua individualidade. Repare que, assim como o Cristo, Luke tem uma profissão simples antes de partir em sua grande aventura.
Seus próprios nomes sugerem essa diferença. ‘Luke Skywalker’, transliterado, significa ‘a luz que caminha sobre o céu’ – em outras palavras, o Sol. ‘Anakin’, por sua vez, quer dizer ‘guerreiro’. Podemos, portanto, associar Anakin e Luke ao primeiro e ao quinto arquétipo do zodíaco, respectivamente. Se Luke representa o signo de Leão, fica suposto que ele viveu o ‘drama familiar’ representado pelo signo de Câncer, ao passo que Anakin está próximo demais do ‘drama coletivo’ do quadrante Capricórnio-Aquário-Peixes.

Em outras palavras, era inevitável que a sociedade galáctica gerasse um ‘vilão’ que a forçasse a reconsiderar seus preceitos, da mesma forma que nossa própria história gerou uma série de vilões como Napoleão ou Hitler. Ora, em Guerra nas Estrelas temos na verdade dois vilões, duas sombras: não só Anakin/Darth Vader como também Palpatine/Darth Sidious. Palpatine era um senador, representando, portanto, o carma de toda a República, e Anakin era um Jedi, sendo assim uma representação do carma dos Jedi.
E quem são os Jedi, afinal? O formato da história nos leva à conclusão automática que os Jedi são os ‘mocinhos’ da história, mas consideremos objetivamente:
Os Jedi abduzem jovens crianças que mostram uma habilidade com a Força – no caso de Anakin, Qui-Gon Jinn literalmente o compra;
No começo de A Ameaça Fantasma, Qui-Gon e Obi-Wan são enviados a Naboo para resolver o bloqueio imposto pela Federação do Comércio, não sendo sequer acompanhados por representantes do governo democrático;
Eles são capazes de manipular o livre arbítrio de outros através de um truque mental, sem se preocupar com as consequências dessa manipulação;
Eles não são policiados por ninguém exceto eles mesmos, e dizem até que aplicarão um golpe de Estado caso o Chanceler não renuncie seus poderes emergenciais após a crise, para garantir uma “transição de volta à democracia” – onde já ouvimos isso antes…?
O treinamento de um Jedi requer a repressão de suas emoções – não apenas as ruins como a raiva e a inveja, mas também as boas, como o amor e a empatia. Afinal, houve alguma discussão sobre as viúvas da Estrela da Morte?
De fato, é exatamente essa repressão que leva Anakin ao lado negro. Ao invés de conduzir o ariano Anakin a uma lagoa canceriana para que processe seus sentimentos em relação a sua mãe, os Jedi o forçam a reprimir seu amor e sua saudade por ela, tornando sua raiva de mais em mais desenfreada. Não surpreende que foi tão fácil para Palpatine levar Anakin ao lado negro.
Por isso, podemos dizer que Darth Vader é a sombra dos Jedi. Antes do nascimento de Anakin, os Sith estavam desaparecidos há séculos, e o lado branco da Força reinava. Ora, justamente por não enfrentarem a ‘escuridão externa’, eles acabaram não confrontando a ‘escuridão interna’. Na trilogia original, há um momento durante o treinamento de Luke em que ele tem uma visão em que corta a cabeça de Darth Vader, e descobre sob o capacete não o rosto de seu pai, mas seu próprio rosto. Ou seja, Darth Vader força Luke a confrontar sua própria escuridão, seu próprio lado negro, algo que não ocorreu com Anakin - Repare que, após trajar roupas brancas nos primeiros filmes, Luke está de preto no final do Retorno dos Jedi – ele reconheceu e integrou seu lado negro.

Quando Anakin foi encontrado pela primeira vez, ele foi levado por Qui-Gon para os Jedi pois ele acreditava que o menino era aquele que “traria o equilíbrio de volta à Força” – e ele tinha razão! O que os Jedi não pararam para considerar é que o que equilibra um excesso de luz é justamente a escuridão. O conceito da Força como elemento que anima tudo aquilo que é vivo pode ser comparado ao Tao, e no símbolo do Tao há tanto preto quanto branco.
É por isso que Darth Vader usa uma máscara: Anakin não existe mais, ele foi possuído pelo superego, não tem mais identidade. Assim como o Saturno mitológico, ele se torna um ‘devorador de crianças’. Obi-Wan tem razão quando ele diz a Luke que Darth Vader matou seu pai: Darth Vader não é uma pessoa, mas sim uma representação de todos os sentimentos que foram reprimidos pelo ‘Código Jedi’. Ele é mais máquina que gente.
Temos uma tendência a acreditar que toda repressão é resultado de algum tipo de malevolência inerente, mas como diz o velho ditado, o caminho até o inferno é pavimentado de boas intenções. Devido ao desaparecimento dos Sith, os Jedi deixaram de encarar seu lado sombrio, e como todo o universo tem uma tendência homeostática, era só uma questão de tempo até que surgisse um ser ‘malvado’ para corrigir esse excesso.
Não é à toa que os Skywalker são de Tatooine, um planeta às margens da República, dominado por escravocratas e contrabandistas. De que adiantou a democracia ou o Código Jedi para os pobres coitados que moram lá? Da mesma forma, Palpatine é de Naboo, um planeta cujo assédio pela Federação do Comércio foi praticamente ignorado pelos burocratas da República. Citamos acima os exemplos de Napoleão e Hitler, e ambos vieram das margens de seus impérios (respectivamente a Córsega e a Áustria).
O mapa de James Earl Jones, a voz de Darth Vader, nos mostra muito claramente sua ligação ao arquétipo de Capricórnio. Assim como Anakin, James cresceu sem pai, e seu medo era tão grande que gaguejava a ponto de ser funcionalmente mudo por muitos anos. Foi apenas quando um professor descobriu seu talento para a poesia que James começou a falar (repare no Júpiter em Câncer fazendo oposição ao stellium de Capricórnio).

Mas então por que James se tornou um ator de sucesso e não sucumbiu à repressão como Anakin? Sem dúvida isso tem algo a ver com o fato de o Sol e a Lua, mesmo estando em Capricórnio, encorajaram James a desenvolver sua individualidade, sobretudo após a ajuda “fortuita” de professores cancerianos. James poderia ter ficado no exército, onde certamente se sentia bem ‘em casa’, mas lá seria apenas mais um soldado. No teatro e no cinema, se tornou uma das vozes mais reconhecíveis dos últimos tempos.
Lembre-se de quem é
Pode parecer, a princípio, contra-intuitivo usar o Rei Leão como exemplo para Capricórnio, mas a verdade é que a mensagem subjacente do filme não é tanto sobre a 5-individuação quanto sobre o 10-legado. Afinal, a transformação pela qual Simba passa não tem a ver com sua definição como indivíduo, mas com a aceitação de seu destino e de suas responsabilidades.
Mufasa explica a Simba, no começo do filme, que um dia ele também será rei, mas que como todos os animais do reino ele tem seu lugar e seu tempo, sendo parte do grande círculo da vida (o significado literal do termo ‘zodíaco’). No entanto, por mais que Mufasa enfatize que um dia ele irá morrer e Simba tomará seu lugar, fica claro que ainda há um assunto do qual ainda tem um certo medo, pois ele proíbe Simba de ir ao cemitério dos elefantes.
Os elefantes, por sua vez, são conhecidos por terem uma longa memória: elefantes nunca esquecem. Podemos entender que talvez o grande medo de Mufasa seja não o medo de morrer, mas o medo de cair no esquecimento. Ora, essa é uma realidade que todos temos que enfrentar, e como ele não consegue aceitar isso inteiramente, e provavelmente reprime esse medo do esquecimento, surge o vilão: Scar.

Mufasa tem medo de que seu filho será tão grandioso que ele mesmo cairá no esquecimento após a morte, mas como ele foi ensinado a sempre ter orgulho de sua prole, não consegue se imaginar sentindo algum tipo de ódio em relação a Simba. Ele acaba então projetando esse medo sobre seu irmão, que tem um ressentimento claro em relação a Simba, pois ele representa o fato de que nunca será rei, já que Mufasa tem um herdeiro agora.
E como Mufasa não reconhece esse medo de seu próprio filho, é justamente esse medo que acaba levando a seu fim. Precisamos reconhecer e admitir todos os aspectos de nosso psiquismo, até mesmo aqueles que são considerados ‘errados’ ou ‘feios’. Enquanto reprimirmos alguns desses aspectos, eles continuarão aparecendo como ‘vilões’, como nossa ‘sombra’, cujo poder é proporcional a nossa negação.
O irmão de Mufasa se chama Scar porque ele representa o medo de Mufasa de não deixar cicatriz, marca nenhuma sobre o mundo. Scar tem uma marca que o define, e talvez Mufasa passe a vida toda sendo simplesmente mais um leão, mais um rei. Ora, esse é um risco que todos nós corremos, e precisamos aceitar isso. Nossas ações estão sob nosso controle, mas nosso legado, aquilo que sobrará de nós após deixarmos o mundo dos vivos, não depende apenas de nós.

Para Simba, tudo vai correndo muito bem, de seu 1-nascimento até as brincadeiras com sua 3-irmã Nala (linha verde). Ora, quando nossa consciência, aqui representada por Mufasa, não nos permite lidar com um devido aspecto de nossa totalidade, no caso o 4-esquecimento, esse aspecto será trazido por nossa sombra. Simba diz que o que mais quer é ser 5-rei, mas antes disso precisa enfrentar a morte e entender o que é o legado verdadeiro.
Portanto, quando chega a hora da morte de Mufasa, Simba não está pronto para lidar com isso, e acredita que foi tudo por sua culpa. Ao invés de seguir a linha vermelha e assumir o trono, Simba fica com medo e foge de volta para o Jardim do Éden (linha azul). Lá ele encontra Timão e Pumba (em suaíli, ‘negligente’, ‘tolo’), que o ensinam a filosofia do ‘hakuna matata’, “sem preocupações”. Dessa forma, Simba consegue aliviar seu sentimento de culpa, pois as preocupações são o resultado de responsabilidade.
E como o verdadeiro rei passa seu tempo se entorpecendo, querendo viver num mundo ao qual não pertence, o ciclo da vida é interrompido, e o reino passa a perder toda sua vitalidade. Mesmo quando Nala reaparece, ele continua rejeitando suas responsabilidades. A salvação, afinal, nunca vem de fora, e sim de dentro. É apenas quando Simba olha na lagoa e entende sua herança, representada pelo fantasma de Mufasa, que ele reconhece seu verdadeiro papel – e provando que o medo de Mufasa de ser esquecido era, afinal, infundado.
Assim como o leão, todos nós temos um lugar no ciclo da vida, um destino que está gravado em nosso DNA. Podemos fugir o quanto quisermos, mas essa escolha está marcada em nós como uma cicatriz. É apenas ao aceitar as responsabilidades que colocamos sobre nós mesmos, ao integrar nosso legado capricorniano, que poderemos traçar um caminho até a realização verdadeira.
Bruno dos Santos Costa, astrólogo
Fonte: https://erisastrologia.wordpress.com/capricornio-exemplos/
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