top of page

A solidão feminina como ferramenta de empoderamento

  • Maria Luísa Macedo
  • Jul 13, 2017
  • 4 min read

Há alguns meses, Érica Nunes publicou no blog um texto intitulado Solidão Não, Amizade Comigo Mesma. Enquanto psicóloga clínica, Nunes aponta que quando o sentimento de solidão é abordado nos consultórios ele “(...) É geralmente associado à estados de mal estar psíquico, sofrimento e a uma enorme dificuldade encontrada por algumas pessoas em estarem sozinhas.”. Em seu texto, Érica Nunes discorre sobre esse sentimento na vivência feminina. Nunes afirma que “(...) Os papéis atribuídos aos gêneros em nossa sociedade tem grande influência no significado da solidão para ambos os sexos.” A problemática da solidão na vivência feminina dá-se principalmente no momento em que os papéis oferecidos à elas são funções relacionais (Zanello, 2016).


No texto, Érica Nunes também cita Basaglia (1983), que afirma que as mulheres em nossa sociedade se constroem como um corpo-para-outro, ou seja, um corpo moldado para sempre servir outrem. De fato, muitas vezes a natureza feminina é vista como sacrificadora, todavia, o sacrifício é unilateral e, por isso mesmo, insatisfatório. Nunes ainda aponta que “(...) A grande problemática disso é que um corpo que se molda para servir ao outro raramente vai dedicar-se a si, aqui é onde começam as peculiaridades da mulher em lidar com a solidão.”.


Devido à tais aspectos, há uma natureza empoderadora em estar sozinha. No fim de seu texto, Nunes afirma que “(...) Deixar de localizar a felicidade da vida nos momentos em que se está com o outro é profundamente libertador, já que se deixa de esperar pelo outro para ir se dar prazer. Ou seja, eu não preciso esperar que alguém me leve no restaurante que eu adoro eu posso fazer isso por mim, ou alguém que me convide para ver o filme que estou louca para ver eu posso fazer isso por mim. Dessa forma a vida saí do estado de espera pelo outro e passa a ser uma eterna vivência de amizade com nós mesmas.”


Em Mulheres que Correm com os Lobos, Clarissa Pinkola Estés (1992) afirma que a manutenção de uma vida criativa e saudável é o caminho que leva à Mulher Selvagem, o cerne criativo e instintivo do qual fomos afastadas pelo nosso meio sociocultural. Pinkola Estés (1992) também defende o possível elemento empoderador na solidão feminina. A autora destaca a origem da palavra inglesa ‘alone’, ‘só’, “(...) Para ter esse intercâmbio com o feminino selvagem, a mulher precisa deixar temporariamente o mundo, colocando-se num estado de solidão - aloneness - no sentido mais antigo do termo. Antigamente, a palavra alone (só) era tratada como duas palavras, all one. Estar all one significava estar inteiramente em si, em sua unidade, quer essencial quer temporariamente. É esse exatamente o objetivo da solidão, o de estar inteiramente em si. Ela é a cura para o estado de nervos em frangalhos tão comum às mulheres modernas, aquele que a faz “montar no cavalo e sair cavalgando em todas as direções”, como diz um velho ditado.”.


A solidão voluntária regular que nos permite introspecção e reflexão é um momento rico e poderoso de autoconhecimento e que possibilita a auto atualização (Jung). De fato, são diversas as autoras e os autores dentro da psicologia analítica que apontam a solidão criativa como caminho do processo de individuação. No artigo Loucura ou Criatividade? - As Diversas Expressões do Feminino Arquetípico, Claudia Morelli Gadotti (2011) frisa que “(...) Na depressão criativa, realizamos um movimento contrário à vida extrovertida, fazemos uma descida à Hades, para lá nos alimentar do fruto que nos dá o comprometimento com a profundidade da Vida, e que paradoxalmente se dá com a consciência da Morte. (...) A viagem da alma se dá rumo ao pequeno, no sentido vertical de nós mesmos. Como dizia Adélia Prado (1997), “Todas as paixões humanas estão aqui em Divinópolis”. O que nos interessa é o lugar simbólico dentro de nós.”.


Assim como Pinkola Estés, Robert A. Johnson (1987) defende a capacidade do elemento feminino de se conectar com uma sabedoria antiga, criativa e instintiva, “(...) A mulher - ou o princípio feminino - parece ter de retornar a um núcleo central imóvel a cada vez que algo lhe acontece (e isso é um ato criativo). (...) Ela é receptiva, não passiva.”.


Em She - A Chave do Entendimento da Psicologia Feminina, Robert A. Johnson (1987) afirma que o trunfo feminino está na habilidade de exercer a solidão criativa, “(...) O feminino na mulher ou a anima no homem precisa selecionar e retirar o material que está inconsciente, para trazê-lo com ordenação e lógica para o consciente.”. Além disso, o autor sugere a capacidade do elemento feminino de se conectar com uma sabedoria antiga, criativa e instintiva, “(...) A mulher - ou o princípio feminino - parece ter de retornar a um núcleo central imóvel a cada vez que algo lhe acontece (e isso é um ato criativo).”.

Nós, mulheres, parecemos nos beneficiar imensamente de atividades solitárias e criativas, nas quais podemos entrar em sintonia com nós mesmas - correr, nadar, tocar um instrumento, pintar, dançar, fazer crochet, escrever em um diário, fazer cerâmica, desenhar, construir uma maquete, montar um quebra cabeças… As possibilidades são inúmeras. Por isso, proponho que você, leitora, busque encontrar e praticar uma atividade criativa solitária que encha seus dias de fogo e música! Termino essas reflexões com uma citação de Bianca Sparacino, “(...) Fique sozinha. Coma sozinha, se leve para passear, durma sozinha. No meio disso você irá aprender sobre você mesma. Você irá crescer, você irá descobrir o que te inspira, você irá cultivar os seus próprios sonhos, suas próprias crenças, sua própria claridade iluminadora.”.



Animastê,

Maria Luísa Macedo

 
 
 

コメント


Siga o coletivo Inconsciente:
  • Facebook Social Icon
  • YouTube Social  Icon
  • Instagram Social Icon
 POSTS recentes: 

© 2016 por coletivo inconsciente.

bottom of page