Se encontrando através do não

Você teve escolhas ou se viu diante de um prato cheio de comida pronto? Pôde escolher a quantidade ou era obrigado a comer tudo o que o responsável colocava à sua frente? Teve o seu desejo de trocar de escola respeitado? Pôde escolher o seu estilo de roupas durante a adolescência? Pôde opinar com professores na escolha de projetos, assentos e forma em que a aula era dada?

Se você respondeu negativamente a duas ou mais perguntas acima, você provavelmente perdeu a oportunidade de aprender, desde a tenra infância, a importância da palavra não.

Agora está em alta diagnosticar crianças com TOD (transtorno desafiador opositor). Muitos pais me procuram preocupados com a possibilidade do filho apresentar esse “problema”. Eu só vejo crianças tentando achar e escutar a si mesmos.

Quando a criança não é autorizada a negar ela se sente obrigada a aceitar. E o que acontecerá com esse sujeito na sua formação? Olhe para trás e lembre dos namoros que te deixavam desconfortável de alguma forma mas que você sustentava? E os curso que iniciou e não gostou mas que fez até o final? Festas, viagens, empregos, relações sexuais sem prazer…

O mundo externo acaba por nos invadir de uma forma que fica impossível conhecer e agradar aquele que realmente importa.

Dá uma insegurança mesmo de dizer “não” e perder algo. Mas tenho um segredo para te revelar, o mundo ama e aplaude o autêntico, o autoral.

Comece dizendo não a pequenas coisas que te geram desconforto, como o término de um livro entediante, e veja como se sente. Aumente as doses gradativamente até chegar aos relacionamentos tóxicos, pode ser uma amizade que não parece muito sincera ou um namoro que te deixa cheio de mágoas e decepções.

Já sei onde o seu pensamento quer chegar nesse momento, “dessa forma vou acabar sozinho, antipático e isolado do mundo!”. E minha resposta é simplesmente, NÃO! Tirar da sua vida o que gera desconforto é como fazer uma bela arrumação no armário, você começa por separar roupas que não quer mais para, posteriormente, descobrir aquelas que você realmente gosta lá dentro e também lá fora, no mundo.

Quando chegar a esse ponto você começará a ponderar até o seu trabalho. Você se sente realizado? O ambiente de trabalho é legal? Gosta do que faz? Se vê nessa área por mais 5 anos? Não? Então você já sabe o que fazer.

Se você ainda não sabe o que quer da vida, diga não às coisas que não quer. Daí aparecerão novas oportunidades que serão tratadas assim como o seu armário, mantidas ou descartadas até que por eliminação você ache o seu caminho iluminado.

Milena Montenegro, mãe de duas meninas lindas, psicanalista em formação e professora apaixonada

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