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Quem é o responsável pela sua felicidade?

  • Amanda Paiva
  • Jul 14, 2017
  • 4 min read

Se a nossa felicidade está dentro de nós mesmos, então qual o sentido de amar outra pessoa e deixar com ela a responsabilidade de toda essa felicidade?


Frequentemente refletindo comigo eu achava que as pessoas nasciam, se desenvolviam, aprendiam coisas e ganhavam com isso um super poder de decisão sobre suas próprias vida, que podíamos controlar o tudo, escolhendo com quem seriam nossos relacionamentos amorosos, nossos trabalhos, hobbies, nossas amizades, nos responsabilizando por nossas vontades. O tempo foi passando e eu consegui entender que nosso inconsciente é maior que tudo isso e o não adianta tentar escolher entre essas coisas pré-estabelecidas porque no fundo o que nos faz decidir tudo são os nossos desejos e o universo.


Quanto mais observo pessoas mais consigo perceber que elas não são aquilo que elas dizem ser e acredito que isso acontece porque elas parecem estar enraizadas em crenças da sociedade que dizem o como cada um deve se comportar. Muitas vezes fazemos as coisas de forma tão rápida seguindo esses desejos, que nem nos damos conta do que estamos fazendo, e de como estamos fazendo.

Nós nos preocupamos tanto com o bem estar do outro que esquecemos de pensar no nosso próprio, consigo perceber essa dinâmica nos relacionamentos amorosos monogâmicos, que entendo como união de duas pessoas com um mesmo propósito e que querem fazer isso bem, mas nem sempre funciona, e principalmente quando eles chegam ao fim, as pessoas tendem a não aceitá-lo ou tentar encarar o mesmo de forma maniqueísta e determinista, ou seja tratando como se tudo estivesse baseado em funções opostas e incompatíveis, como ‘’isso ou aquilo’’. E ao tratar as coisas nessa perspectiva geralmente uma das partes costuma ser ‘’demonizada’’, com um discurso de ódio, simplesmente porque essa pessoa não correspondeu às expectativas do outro, como se sempre houvesse alguém que estivesse certo e outro errado dentro do relacionamento. As pessoas começam a pensar que tudo que poderia acontecer nessa perspectiva do amor, do desejo e da tal responsabilidade afetiva que tanto se fala, estivessem sob controle de alguém, mas a verdade é que nada disso está sob nosso controle, em minhas vivências o que posso perceber é que quanto mais tentamos controlar algo, mais fácil fica de afastar isso de você.


No início do século XIX, alguns psicólogos sustentavam a hipótese de que a empatia, era uma capacidade de compreensão mútua, na qual as pessoas conseguiam perceber as experiências dos outros como se estivessem sendo vivenciadas por elas mesmas (Sampaio, Camino e Roazzi, 2009)


Depois de anos de terapia, de estudos e de alguns relacionamentos, eu consigo hoje perceber e admitir que contribui para a existência dos momentos ruins durante relacionamentos, esses de todas as espécies que existiram na minha vida. Também aprendi que dar espaço é algo importante para todos, e que dentro de uma relação e pode ser uma forma de mostrar respeito aos limites do outro. No entanto, isso é uma percepção minha e em tempos de internet, com todas as informações se propagando de forma rápida e globalizada podemos facilmente encontrar em sites ‘’tutoriais’’ generalistas sobre como lidar com esses relacionamentos e com essa coisa que estão chamando de responsabilidade afetiva, que particularmente ainda estou duvidando da existência. Em uma simples busca na internet é possível encontrar resultados que reafirmam esse pensamento com listas do tipo ‘’como perceber se tal pessoa é tóxica para mim.’’; ‘’ como saber se você está sendo iludido por alguém’’; ‘’ como saber se tais pessoas estão jogando com você ‘’ e etc. O que as pessoas tem dificuldade de admitir é que ninguém é propriedade de ninguém, e que ninguém é culpado por errar as vezes, e que até mesmo esses erros podem ter um propósito de aprendizado.


Tendo como base todas essas reflexões, eu me pergunto: por que não investir toda essa energia gasta nessa tentativa de culpar o outro por não suprir nossas demandas em o cuidado, consigo mesmo e com outros e com os tipos de relações que queremos manter em nossas vidas?

Acontece que o tempo todo as pessoas estão transferindo a responsabilidade de sua felicidade para o outro, gerando assim um desconforto mútuo. Acredito que o que falta mesmo existir nessas formas contemporâneas de se relacionar com o outro é o autoconhecimento, respeito e empatia, para que ao refletir sobre essas unidades consigamos ser capazes de perceber que mesmo quando as pessoas parecem nos fazer sentir melhor, elas não são a solução de nossas demandas afetivas.


Você é o único e inteiro responsável por todas as expectativas que você cria em relação a alguma coisa. As pessoas podem se gostar muito, até mesmo se amarem, mas isso não significa que elas necessitem estar 24h por dia suprindo todas as suas demandas afetivas para que vocês se relacionem bem.


Quando tentamos compreender uma pessoa e os sentimentos que por ela são vivenciados, existe uma grande probabilidade dessa relação se tornar algo saudável, pois quando o outro se sente compreendido, a possibilidade dele conseguir manter suas atitudes baseadas no que ele está sentindo, como um ser livre, é maior. De forma com que a relação possa se tornar algo leve e prazeroso de lidar.


Acredito que sejamos nós mesmos os responsáveis pela nossa felicidade individual, e que primeiro é necessário estar bem consigo para estar bem com outros, mas que isso também não significa que devemos nos abster de relações afetivas, porque elas são sim muito importantes, e podem nos fazer bem quando construídas com respeito, empatia e longe de concepções deterministas e de discursos de ódio e ciúmes.



Amanda Paiva


Referências bibliográficas:

SAMPAIO, L. R; CAMINO C.P.S; ROAZZI, A. Revisão de aspectos conceituais, teóricos e metodológicos da empatia. Psicologia ciência e profissão, v. 29, n. 2, 2009

 
 
 

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